Copom
Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Brasília (DF) — O Comitê de Política Monetária do Banco Central realiza nesta quarta-feira (10) a última reunião do ano para decidir se mantém a Taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. A tendência majoritária no mercado é de nova manutenção, apesar da desaceleração inflacionária e da crescente pressão por um ciclo de redução já no início de 2026 — movimento visto por setores produtivos como essencial para reativar o crédito e destravar investimentos parados.

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A Selic está no nível mais elevado desde julho de 2006 e passou por sete altas consecutivas entre o fim de 2024 e setembro de 2025. Desde então, o Copom interrompeu o ciclo, mas sem sinalizar quando pretende reverter a política contracionista.

A ata mais recente reforçou que os juros permaneceriam “por tempo prolongado” em 15%, justificativa que, para parte do governo e para a indústria, não se sustenta diante do comportamento mais benigno dos preços.

A inflação acumulada em 12 meses voltou ao teto da meta contínua, com o IPCA-15 de outubro registrando apenas 0,2%. Alimentos e energia ainda pressionam alguns segmentos, mas o conjunto da inflação perdeu força ao longo do ano.

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O Boletim Focus reduziu pela quarta semana consecutiva a projeção da inflação para 2025, hoje em 4,4%. Esse quadro já seria compatível com cortes graduais na Selic para aliviar o custo do crédito, que segue travando o consumo das famílias e projetos de investimento.

Embora o BC insista na cautela, a discrepância entre inflação controlada e juros reais entre os mais altos do mundo reforça críticas à postura conservadora característica da entidade.

O receio de “incertezas externas” — novamente citado na última ata — vem sendo questionado por economistas desenvolvimentistas, que apontam que o país mantém fundamentos sólidos, contas externas equilibradas e trajetória fiscal previsível.

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Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Nesse cenário, prolongar juros tão elevados tende a frear a atividade mais do que conter preços, efeito já perceptível na desaceleração do emprego formal e no arrefecimento da indústria.

A política monetária também tem produzido efeitos desiguais: enquanto os rendimentos de aplicações atreladas à Selic permanecem elevados, o crédito para pequenos negócios e famílias continua caro e restrito.

A combinação dessa trava financeira com quedas moderadas na inflação alimenta a expectativa de que 2026 abra espaço para cortes.

O Focus projeta que a Selic deve permanecer em 15% até o início do próximo ano, mas diverge sobre o momento exato do início da flexibilização — sinal de que a manutenção de hoje seria o último passo antes do ciclo de queda.

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A reunião do Copom segue o rito de sempre: apresentações técnicas no primeiro dia que aconteceu na terça (09), avaliação dos diretores no segundo e anúncio da decisão no início da noite de hoje.

Embora parcela do mercado veja risco marginal de um discurso mais duro, a leitura predominante é de que o BC terá de reconhecer, ainda que de forma gradual, a melhora do quadro inflacionário e a necessidade de calibrar a política monetária para não aprofundar a desaceleração econômica.

Pelo regime de meta contínua, o Banco Central precisa perseguir inflação de 3% ao ano, com faixa de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

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A metodologia, que avalia a inflação acumulada mês a mês, minimiza efeitos pontuais e favorece leituras mais estruturais — precisamente o tipo de interpretação que reforça a tese de que a política monetária está mais restritiva do que o necessário.

No último Relatório de Política Monetária, o BC projetou inflação de 4,8% para 2025, estimativa que tende a ser revista à luz dos dados mais fracos recentes. Caso a desaceleração se consolide, a pressão para iniciar cortes já no primeiro trimestre de 2026 deve aumentar de forma significativa.

Para setores produtivos, um novo ciclo de queda dos juros é condição para recuperar a capacidade de investimento, estimular a atividade e permitir que o país retome um ritmo de crescimento compatível com sua necessidade social e produtiva.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e editor-chefe da IA Dinheiro. Produz reportagens e conteúdos com foco em economia, democracia, desigualdade e políticas públicas.

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