Brasília (DF) — Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para Belém, no Pará, o debate global sobre o clima se consolida como uma crise de natureza essencialmente econômica. O aquecimento do planeta já não é apenas uma ameaça futura, mas uma realidade que se traduz em prejuízos diretos, como perdas agrícolas, o consequente encarecimento de alimentos, e o aumento de gastos públicos destinados à reconstrução após eventos climáticos extremos.
A conferência na capital paraense reunirá chefes de governo e representantes de instituições multilaterais com o desafio prático de converter o vasto consenso científico em uma ação financeira robusta. O objetivo é estabelecer mecanismos que possam, de fato, reduzir o custo material e crescente da crise climática global.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estabeleceu a dimensão do desafio: países em desenvolvimento necessitarão de um investimento anual entre $ 215 bilhões a $ 387 bilhões até 2030 apenas para se adaptar aos impactos do aquecimento.
No entanto, o fluxo financeiro internacional que chega a esses países para a adaptação soma pouco mais de $ 20 bilhões por ano, revelando um profundo descompasso entre o ritmo da crise e a resposta financeira global.
Este déficit de investimento é um fator de pressão na economia real, dado que a queda na produtividade agrícola, a alta nos preços de seguros e de crédito e a constante ampliação dos gastos emergenciais pressionam de forma crítica os orçamentos nacionais.
Embora bancos de desenvolvimento alertem que a prevenção é significativamente mais barata — afirmando que cada dólar aplicado evita múltiplos em prejuízos futuros —, as políticas de investimento permanecem travadas em disputas orçamentárias.
A dicotomia de prioridades foi ressaltada pelo astrofísico Ricardo Ogando, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (MCTI), que integra o movimento internacional Astronomers for Planet Earth. Em entrevista à Agência Brasil, Ogando classificou como autodestrutiva a lógica financeira que adia as soluções.
Segundo ele, o investimento em exploração espacial de alto custo, enquanto o planeta enfrenta colapso ambiental, é uma prioridade equivocada.
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“É muito mais barato ficar na Terra e cuidar dela”, defendeu, sugerindo que o foco em missões de retorno incerto adia investimentos em resiliência, infraestrutura verde e energia limpa — setores com potencial comprovado de gerar empregos, atrair capital privado e mitigar riscos fiscais.
A realização da COP30 em Belém será, assim, um ponto de inflexão. O sucesso da conferência será medido não pela qualidade do discurso diplomático, mas pela capacidade dos países signatários de apresentarem mecanismos de financiamento e regulação que consigam, finalmente, alinhar a ciência às necessidades da economia global.
Caso a conferência repita o padrão de promessas não concretizadas, apenas confirmará a hesitação internacional em pagar o preço necessário para evitar o colapso climático.










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