A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima começa nesta segunda-feira (10) em Belém-PA, cercada por promessas de ação e diagnósticos sombrios. Dez anos depois do Acordo de Paris, o mundo chega à COP30 mais quente, mais desigual e menos cooperativo. O que deveria ser uma cúpula de transição virou um encontro de contenção: já não se discute como evitar o colapso, mas como administrá-lo.
A COP30 será lembrada como a conferência da verdade inconveniente. Em 2015, os países assumiram o compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Em 2025, estamos perigosamente próximos disso — e subindo. A Organização Meteorológica Mundial projeta o quinto ano consecutivo de recordes de calor, com impactos visíveis em todos os continentes.
Secas históricas, enchentes e crises alimentares não são mais alertas: são o presente. O Acordo de Paris completou uma década, mas a distância entre metas e resultados escancara um mundo que fala em “transição verde” enquanto continua subsidiando o petróleo, o carvão e o gás em mais de US$ 1 trilhão por ano.
Belém simboliza um paradoxo. Ao sediar a COP no coração da floresta amazônica, o Brasil oferece ao mundo o cenário ideal para debater o futuro do planeta. Mas a imagem contrasta com a realidade: desmatamento ainda crescente, avanço de garimpos ilegais, ameaças à demarcação de terras indígenas e planos de exploração de petróleo na foz do Amazonas.
Lula chega à conferência tentando equilibrar preservação ambiental e desenvolvimento, propondo o Fundo Florestas Tropicais para Sempre — um mecanismo ambicioso que, se sair do papel, poderia inaugurar uma nova lógica de financiamento climático. O problema é que o discurso global de solidariedade raramente se converte em recursos reais.
O que está em jogo na COP30 é mais do que metas de emissões. É a credibilidade da governança climática internacional. O Acordo de Paris previa revisões periódicas — as chamadas NDCs — para elevar a ambição dos países.
O que se vê, porém, é uma paralisia coletiva. As economias avançadas resistem a financiar a transição do Sul global; as emergentes alegam que não podem abrir mão de crescer; e as grandes potências, como Estados Unidos e China, usam o clima como peça de barganha geopolítica.
Enquanto isso, as empresas de energia continuam entre as mais lucrativas do planeta. A COP30, portanto, não é um encontro técnico: é um campo de disputa entre um modelo que morre e outro que ainda não nasceu.

Nos últimos anos, houve avanços localizados — a queda no custo das energias renováveis, a ampliação dos biocombustíveis e o crescimento de instrumentos de precificação de carbono. Mas o problema nunca foi tecnológico.
O nó é político e econômico: o planeta continua refém de um sistema que prioriza lucro imediato e posterga custos coletivos. O chamado “mercado de carbono”, defendido como solução de eficiência, virou um labirinto de compensações fictícias e especulação financeira.
As grandes corporações aprendem a medir suas emissões, mas não a reduzi-las. E as conferências, capturadas por patrocínios empresariais, tornaram-se parte do espetáculo da sustentabilidade performática.
A conferência de Belém deveria inaugurar um novo ciclo — menos centrado em promessas e mais em políticas públicas globais efetivas. O que se espera, no entanto, é mais um texto diplomático cuidadosamente negociado para não ferir interesses.
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Nenhum país quer assumir compromissos vinculantes. Nenhum setor quer arcar com o custo da mudança. O resultado provável é um consenso confortável: mais fundos anunciados, metas reembaladas e cronogramas adiados. É o velho roteiro de uma humanidade que negocia com a própria extinção.
Ainda assim, a COP30 carrega um sentido histórico. Ao trazer a discussão para a Amazônia, o Brasil desloca o eixo simbólico do poder climático — do Norte industrializado para o Sul que vive os efeitos da crise.
A esperança está nas pontes que podem surgir entre desenvolvimento e conservação, entre economia e justiça. Mas o sucesso do encontro dependerá menos dos discursos e mais da coragem política de romper com o cinismo ambiental que domina a diplomacia global.
No fim, a COP30 não dirá apenas o que o mundo fará pelo clima. Dirá o que ainda resta de cooperação internacional diante de uma emergência que já não cabe nas planilhas do mercado. Belém será o espelho de um planeta que precisa escolher entre a continuidade da inércia ou o início, ainda possível, de um novo pacto civilizatório.











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