China e EUA

Pequim — A China acusou nesta quinta-feira (16) os Estados Unidos de criar pânico internacional em torno das novas restrições chinesas à exportação de terras raras, insumos essenciais para a indústria de semicondutores, energia limpa e defesa. O governo de Pequim afirmou que as medidas seguem “padrões internacionais” e acusou Washington de “distorcer os fatos” para justificar uma ofensiva econômica mais ampla contra empresas chinesas.

continua depois da publicidade

A porta-voz do Ministério do Comércio, He Yongqian, afirmou que o discurso norte-americano “deliberadamente exagera” o alcance das novas regras e “espalha desinformação” sobre seu impacto global. Segundo ela, pedidos de licença para exportações com fins civis continuarão sendo aprovados normalmente.

A declaração foi uma resposta direta às críticas do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que havia classificado as restrições como um “ataque às cadeias de suprimento mundiais”.

A tensão comercial cresceu depois que negociadores dos dois países voltaram a trocar acusações, em meio à ameaça do presidente Donald Trump de elevar tarifas sobre produtos chineses a 100% caso Pequim não revogue as medidas antes de 8 de novembro.

continua depois da publicidade

Analistas ouvidos pela IA Dinheiro avaliam que a escalada pode comprometer o encontro entre Trump e o líder Xi Jinping, previsto para o fim do mês na Coreia do Sul, considerado o principal ponto de estabilidade diplomática entre as duas potências.

O governo chinês publicou um comunicado oficial e uma série de infográficos no jornal estatal People’s Daily, afirmando que os Estados Unidos “abusam de controles comerciais e discriminam empresas chinesas” sob pretexto de segurança nacional.

O texto cita que Washington mantém uma lista de controle de mais de 3 mil itens, contra 900 na lista chinesa, e acusa o país de “duplo padrão” ao exigir abertura de mercados enquanto mantém suas próprias restrições.

Do lado americano, o representante comercial Jamieson Greer chamou as medidas chinesas de “manobra de poder sobre as cadeias globais de produção”, e Bessent afirmou que Pequim “poderia evitar a crise tarifária” se recuasse das restrições. As falas endureceram o tom em relação à chamada “trégua de 90 dias” vigente desde agosto, que vence no início de novembro.

China e EUA

Os controles chineses sobre as terras raras — grupo de 17 minerais usados em baterias, chips e armamentos — reacenderam a disputa por soberania tecnológica.

Com mais de 90% da capacidade mundial de refino desses elementos, a China detém posição dominante no fornecimento de materiais essenciais à transição energética. A nova regulamentação impõe licenciamento para exportação e limita o envio de produtos considerados estratégicos.

Para Pequim, a medida é defensiva: busca preservar recursos nacionais e evitar que materiais críticos sejam usados em tecnologias militares estrangeiras. Para Washington, é uma tentativa de usar o domínio sobre insumos industriais como arma geopolítica.

O impasse ocorre num momento em que os EUA endurecem as restrições à exportação de chips e equipamentos de fabricação de semicondutores para a China, ampliando sua “lista de entidades” proibidas.

Leia Mais

O embate também ganhou tom pessoal. Bessent chamou o principal negociador chinês, Li Chenggang, de “instável” e “desrespeitoso”, alegando que o vice-ministro ameaçou “provocar caos global” caso as novas taxas portuárias americanas fossem aplicadas. Pequim reagiu, dizendo que os comentários “distorcem a realidade” e reafirmando que a China tem buscado “diálogo e cooperação”.

Apesar da troca de acusações, diplomatas acreditam que o canal direto entre Trump e Xi ainda pode conter a escalada. A última conversa entre ambos, em setembro, foi considerada positiva e resultou em um acordo sobre a operação do TikTok nos EUA.

A dúvida agora é se a disputa pelas terras raras — recurso que simboliza o poder industrial do século XXI — se tornará mais um ponto de ruptura entre as duas maiores economias do mundo.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Ainda não há comentários nesta matéria.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima