Casamento homoafetivo
Foto: Rovena Rosa/Agencia Brasil

Bruxelas (Bélgica) — O Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu nesta terça-feira (25) que todos os países do bloco são obrigados a reconhecer casamentos entre pessoas do mesmo sexo celebrados em qualquer Estado-membro, resolvendo um impasse jurídico que afetava casais em nações conservadoras e garantindo uniformidade na proteção de direitos civis.

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A decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), a mais alta instância jurídica do bloco, marca um avanço significativo para a proteção de direitos LGBTQIA+ no continente.

O tribunal determinou que, independentemente da legislação nacional de cada país, matrimônios homoafetivos legalmente celebrados em um Estado-membro devem ser reconhecidos por todos os demais.

A decisão tem efeito imediato e cria um novo patamar jurídico no espaço europeu, onde direitos de famílias homoafetivas ainda enfrentam forte resistência política em alguns países do Leste Europeu.

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O caso que motivou o julgamento envolve um casal de cidadãos poloneses que se casou na Alemanha, país onde o casamento igualitário é permitido há anos.

De volta à Polônia, o casal teve negado o registro conjugal pelo governo local, que alegou que a Constituição polonesa reconhece apenas a união entre um homem e uma mulher. A negativa impediu que o casal tivesse acesso a uma série de direitos, como registro conjunto, herança, benefícios sociais e decisões médicas compartilhadas.

Com a decisão desta terça-feira, o tribunal concluiu que, embora cada país tenha autonomia para legislar sobre casamento civil em seu território, a livre circulação de pessoas — um dos pilares da União Europeia — não pode ser comprometida por discriminações que afetam apenas determinados cidadãos.

Reconhecer o casamento é, portanto, uma exigência do próprio funcionamento do bloco, que depende de harmonização mínima de direitos para garantir segurança jurídica às famílias que se deslocam entre os países membros.

Casamento homoafetivo (1)
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O tribunal enfatizou que o não reconhecimento fere princípios fundamentais, como dignidade humana, igualdade de tratamento e livre circulação. A decisão reforça que famílias homoafetivas devem poder se estabelecer em qualquer país da UE sem perder direitos básicos, mesmo que a legislação local não permita celebrar novos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

O foco, segundo o entendimento do tribunal, é impedir que cidadãos europeus sejam transformados em “famílias de segunda categoria” quando atravessam fronteiras internas.

A decisão representa um contraponto direto à onda de retrocessos que se consolidou em países como Polônia e Hungria nos últimos anos.

Governos nacionalistas desses países têm tentado restringir direitos LGBTQIA+ e limitar políticas de igualdade de gênero, muitas vezes sob justificativa de valores tradicionais. O julgamento do TJUE, contudo, reafirma os princípios fundadores do bloco, que incluem proteção às minorias, respeito à diversidade e combate a discriminações estruturais.

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A medida também cria um precedente que deve fortalecer a pressão interna por mudanças legislativas. Países que proíbem o casamento igualitário agora se verão obrigados a reconhecer casamentos realizados em outras jurisdições do bloco, o que tende a reduzir a assimetria de direitos entre cidadãos.

Na prática, casais que antes viviam em insegurança jurídica passam a ter garantias sobre questões patrimoniais, previdenciárias, sucessórias e médicas. Além disso, a decisão pode ter efeito político profundo ao sinalizar que direitos civis são parte integrante do projeto europeu.

Em um contexto de avanço de forças ultraconservadoras e tentativas de restringir liberdades individuais, a Corte assume posição firme na defesa de princípios democráticos e inclusivos. A união civil deixa de ser tema isolado de moralidade e passa a figurar como componente do equilíbrio institucional do bloco.

Outro ponto relevante é que a decisão fortalece o entendimento de que o casamento igualitário não é apenas um instituto jurídico, mas instrumento de proteção a famílias reais que enfrentam exclusão e marginalização.

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Direitos consolidados por décadas deixam de ser fragmentados entre fronteiras internas, enquanto casais passam a ter respaldo contra decisões administrativas discriminatórias.

O julgamento do TJUE evidencia que a União Europeia pretende assegurar que todos os seus cidadãos, independentemente de orientação sexual, possam circular, viver, trabalhar e constituir família sem terem sua dignidade contestada ao cruzar uma fronteira.

A decisão reforça o compromisso do bloco com um modelo de integração que combina desenvolvimento, democracia e ampliação de direitos humanos. Para milhares de casais que vivem entre Estados-membros, a partir de agora, a Europa se torna juridicamente mais coerente — e socialmente mais igualitária.

Redação IA Dinheiro

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A Redação IA Dinheiro produz reportagens e conteúdos com foco em democracia, desigualdade e políticas públicas.

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