Brasília — O governo brasileiro confirmou no final desta quinta-feira (16) que trabalha para viabilizar uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O anúncio veio após o encontro, em Washington, entre o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio e o representante de Comércio Jamieson Greer — a primeira reunião de alto nível desde que Trump reassumiu a Casa Branca, em janeiro.
Em nota conjunta, os dois países afirmaram ter mantido “conversas muito positivas sobre comércio e questões bilaterais em andamento” e sinalizaram disposição para “colaborar e conduzir discussões em várias frentes no futuro imediato”.
O texto também cita o compromisso de trabalhar pela realização do encontro entre Lula e Trump “na primeira oportunidade possível”. Nos bastidores, porém, diplomatas reconhecem que a relação entre os dois governos segue marcada por desconfiança.
As tensões comerciais aumentaram após julho, quando o governo norte-americano anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto. A Casa Branca alegou razões de proteção industrial e equilíbrio de mercado, mas em Brasília a medida foi recebida como sinal de endurecimento político e de enfraquecimento do diálogo bilateral.
O Itamaraty considera a decisão uma retaliação política. O governo brasileiro vem mudando a postura e as falas recentes. Em agosto, Lula afirmou que não aceitaria “humilhações” e que só negociaria se houvesse “reconhecimento mútuo e respeito à soberania”.
“Eu não vou implorar por redução de tarifa. O Brasil é parceiro, não subordinado”, disse o presidente em agosto.
No entanto, a reunião entre Vieira e Rubio manteve o tom cauteloso e foi vista como um primeiro gesto concreto para tentar reconstruir a confiança. Segundo fontes próximas à diplomacia brasileira, o Brasil busca obter garantias de que eventuais tratativas com Washington resultarão em compromissos práticos — e não apenas em gestos simbólicos.

Do lado americano, Rubio adotou um discurso conciliador. “O Brasil é um parceiro estratégico. Temos divergências, mas há um campo enorme para cooperação econômica, energética e em segurança hemisférica”, declarou o secretário a jornalistas após o encontro. O Departamento de Estado classificou o diálogo como “franco e construtivo” e reconheceu que “há espaço para corrigir excessos recentes”.
Fontes em Washington apontam, no entanto, que o governo Trump enfrenta pressão interna para manter o endurecimento comercial. O lobby industrial republicano considera as tarifas sobre o Brasil uma forma de proteger a produção nacional e reforçar a base eleitoral em estados industriais cruciais para 2026.
O Itamaraty evita confirmar local ou data para a possível reunião presidencial. Inicialmente, diplomatas esperavam que o encontro pudesse ocorrer durante a Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), marcada para o fim de outubro, na Malásia. Agora, a previsão é de que as “agendas dos presidentes” determinarão o momento mais adequado.
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A cientista política Ana Tereza Nogueira, da Universidade de Brasília, afirma que a relação Brasil-EUA vive um ciclo de aproximação e distanciamento que depende mais da conjuntura política do que da agenda comercial. “Uma reunião entre Lula e Trump pode abrir portas, mas dificilmente resolverá o impasse estrutural”, avalia.
Enquanto as negociações seguem, o Brasil reforça a aproximação com outros parceiros. O governo prepara uma missão à China e ao Vietnã em novembro para discutir novos acordos de exportação e investimentos — movimento interpretado como tentativa de reduzir a dependência do mercado americano.
Apesar da incerteza, tanto Brasília quanto Washington parecem dispostas a manter abertos os canais de comunicação, gesto que já representa um avanço em um cenário de desconfiança crescente.
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