Combate à fome
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Doha (Catar) — Um ano após o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, durante a presidência brasileira do G20, o Brasil voltou a ocupar o centro da agenda internacional ao defender que erradicar a fome não é um gesto humanitário, mas uma decisão de Estado. Na Primeira Reunião de Líderes da Aliança, realizada nesta segunda-feira (3), o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, afirmou que “a fome e a pobreza não são inevitáveis — são resultado de escolhas políticas”. A frase sintetizou a mensagem que o Brasil tenta projetar ao mundo: a de que combater a fome exige vontade política, coordenação global e mecanismos permanentes de cooperação.

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Copresidida por Wellington Dias e pela secretária de Estado para Cooperação Internacional da Espanha, Eva Granados, a Aliança Global reúne hoje mais de 200 membros, incluindo 105 países, instituições financeiras multilaterais e agências da ONU.

A iniciativa nasceu em 2024, durante o G20 no Rio de Janeiro, como resposta ao aumento da insegurança alimentar mundial e à necessidade de integrar políticas sociais, agrícolas e climáticas.

Em Doha, líderes e organismos internacionais fizeram um balanço dos avanços do primeiro ano e anunciaram novos programas nacionais em países como Etiópia, Haiti, Quênia, Palestina e Zâmbia.

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Segundo Wellington Dias, o foco da Aliança é transformar o combate à fome em um compromisso institucional, sustentado por políticas públicas de longo prazo.

“Em doze meses, transformamos uma promessa em um mecanismo vivo de solidariedade, coordenação e ação”, declarou o ministro.

Entre as conquistas, destacou a criação do Conselho de Campeões — que reúne representantes de até 50 países e organizações — e a implantação da Iniciativa Fast Track, voltada à execução acelerada de programas de segurança alimentar em larga escala.

A Aliança Global propõe uma metodologia inédita: os países elaboram planos nacionais com base em evidências e políticas já testadas, reunidas na chamada “Cesta de Políticas”, que inclui 51 categorias de programas e 70 exemplos de implementação bem-sucedida.

Combate à fome

Com apoio técnico e financeiro de organismos internacionais, os governos recebem assistência para ampliar suas redes de proteção social, fortalecer a agricultura familiar e garantir resiliência climática.

Para o Brasil, o engajamento na Aliança também tem um valor simbólico. O país, que saiu novamente do Mapa da Fome da ONU em 2024 após retirar 24,4 milhões de pessoas da insegurança alimentar, busca reconquistar protagonismo moral nas agendas de combate à pobreza e à desigualdade.

A política de inclusão social e o fortalecimento de programas de transferência de renda voltaram a ser vistos como referência global, sobretudo após o desmonte de políticas de proteção ocorrido na década anterior.

A reunião de Doha serviu ainda para consolidar compromissos de financiamento e cooperação técnica. Bancos multilaterais como o Banco Mundial, o BID e o FIDA anunciaram novas linhas de crédito para programas nacionais de combate à fome, enquanto países como Alemanha, Espanha, Índia e Reino Unido confirmaram apoio bilateral.

A Aliança também passou a contar com a participação de fundações filantrópicas e centros de pesquisa, em um modelo de cooperação que mistura diplomacia, ciência e política pública.

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O encontro produziu a chamada Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática, que será levada à COP30, no Brasil. O documento reconhece que os piores impactos das mudanças climáticas recaem sobre os mais pobres e defende uma transição justa que una mitigação ambiental e proteção social.

Na prática, o texto busca integrar as agendas de clima e desenvolvimento, um dos eixos centrais da política externa brasileira. Para Eva Granados, a Aliança representa um novo modelo de cooperação internacional.

“O que estamos vendo hoje não é o de sempre. Trata-se de países liderando com seus próprios planos e prioridades, e da comunidade internacional se alinhando a eles com apoio coordenado”, afirmou.

O ministro Wellington Dias reforçou a mesma visão: “A partir de hoje, qualquer país poderá solicitar a ajuda dos demais. A Aliança está aberta, pronta e em operação. A Aliança somos todos nós.”

O balanço do primeiro ano mostra que a fome e a pobreza continuam entre os maiores desafios globais — mais de 600 milhões de pessoas ainda enfrentam insegurança alimentar grave. Mas o avanço da Aliança indica que a cooperação entre países do Sul Global, aliada à mobilização de bancos públicos e multilaterais, pode reabrir o caminho para soluções sustentáveis.

Ao posicionar-se como articulador desse esforço, o Brasil recupera uma tradição diplomática baseada na solidariedade e na defesa do desenvolvimento humano como fundamento da política internacional.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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