PIB Brasil

A economia brasileira deve crescer 2,4% em 2025, segundo projeção divulgada nesta terça-feira (7) pelo Banco Mundial, número que coloca o país ligeiramente acima da média da América Latina e Caribe, estimada em 2,3%. Apesar do desempenho positivo no curto prazo, os dados evidenciam mais uma fase de estabilidade mediana do que um novo ciclo de prosperidade.

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O relatório repete as estimativas de junho e contrasta com previsões mais modestas do Banco Central, que projeta alta de 2%, e do mercado financeiro, que aposta em 2,16%, conforme o Boletim Focus.

Na outra ponta, o Ministério da Fazenda mantém otimismo cauteloso: crescimento de 2,3% em 2025 e 2,4% em 2026, segundo o Boletim MacroFiscal.

Embora a manutenção das projeções possa sugerir solidez, ela também revela que o país atingiu um platô de crescimento, sustentado mais pela conjuntura de controle inflacionário e estímulos pontuais do que por avanços estruturais duradouros.

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Reformas e gargalos: o limite da estabilidade

Para o Banco Mundial, o Brasil — assim como a maioria das economias latino-americanas — enfrenta o desafio de sustentar a expansão em um ambiente global de desaceleração e juros altos.

O documento cita o baixo investimento público e privado, a rigidez fiscal e o custo elevado do crédito como entraves centrais ao desenvolvimento.

Na prática, o país convive com uma combinação de inflação controlada e investimento travado, reflexo da cautela monetária e da dificuldade em criar estímulos produtivos sem deteriorar o quadro fiscal.

Essa equação gera o que economistas chamam de “crescimento morno”: suficiente para manter a renda estável, mas insuficiente para impulsionar ganhos de produtividade ou reduzir desigualdades regionais.

O Banco Mundial destaca que a América Latina tem o ritmo mais lento entre as regiões globais. Em parte, isso se deve à queda dos preços internacionais de commodities — base de exportação de países como Brasil, Chile e Bolívia — e à desaceleração chinesa, que reduz a demanda por produtos primários.

PIB Brasil
Crescimento anual do PIB brasileiro entre 2015 e 2024. Fonte: Banco Mundial / IBGE / elaboração IA Dinheiro.

Internamente, o cenário é agravado por um investimento público comprimido e por um setor privado que ainda desconfia da previsibilidade regulatória.

O relatório recomenda uma agenda de reformas estruturais nas áreas de infraestrutura, educação, política tributária e inovação, além da ampliação dos mercados de capitais para financiar o empreendedorismo.

Em outras palavras, o crescimento de 2,4% não é desprezível, mas revela o limite do modelo atual, sustentado mais pela estabilidade conjuntural do que por uma transformação produtiva de longo prazo.

América Latina: crescimento desigual e dependente

O panorama regional reforça a heterogeneidade da América Latina. A Guiana continua liderando o continente com uma expansão de 11,8% em 2025, sustentada pelo boom do petróleo na Margem Equatorial.

A Argentina, por sua vez, deve crescer 4,6%, impulsionada pela recuperação pós-recessão, enquanto a Bolívia deve registrar retração de 0,5%, iniciando um ciclo de três anos de queda no PIB.

Esses extremos mostram como a região segue dependente de ciclos de commodities e vulnerável à volatilidade global. O Brasil, embora mais diversificado, ainda é influenciado pelo comportamento do agronegócio e da indústria extrativa — setores que respondem diretamente às variações de preço no mercado internacional.

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Comparativamente, o desempenho brasileiro é moderado, mas consistente. A economia conseguiu absorver choques externos recentes — como o aperto monetário global e a desaceleração dos emergentes asiáticos — com relativa estabilidade. Essa resiliência, contudo, tem custo: baixo dinamismo e lentidão nas reformas estruturais.

Para o Banco Mundial, “enfrentar esses desafios exige reformas profundas”, incluindo melhoria dos sistemas educacionais, fortalecimento das universidades e maior integração com o setor privado.

A falta de capital humano qualificado e o baixo nível de inovação continuam sendo os maiores gargalos para sustentar um ciclo de crescimento superior a 3%.

Um crescimento que disfarça vulnerabilidades

O crescimento projetado de 2,4% é, em essência, um número politicamente confortável: suficiente para sustentar a narrativa de recuperação, mas aquém das expectativas necessárias para alterar o patamar econômico do país.

O problema é que o Brasil continua preso a uma armadilha de baixo crescimento, na qual o aumento do PIB depende de estímulos pontuais — como redução de juros, expansão de crédito e exportações agrícolas — em vez de ganhos de produtividade sistêmicos.

Mesmo com a inflação sob controle e o câmbio estável, a falta de dinamismo industrial e a morosidade nas reformas tributária e administrativa comprometem o potencial de aceleração.

O país cresce, mas cresce em terreno raso: sustentado por fatores conjunturais que, embora positivos, não garantem fôlego prolongado.

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Se o Banco Mundial enxerga estabilidade, o mercado vê uma recuperação incompleta, marcada por contrastes entre consumo em alta, investimento fraco e produtividade estagnada.

O desafio, portanto, não é apenas manter o ritmo atual, mas transformá-lo em trajetória. Enquanto isso, a América Latina segue dividida entre potências de recursos naturais e economias vulneráveis.

O Brasil, maior economia da região, tem o papel — e a responsabilidade — de liderar uma nova fase de crescimento mais sustentável e inovador. Por enquanto, o número de 2,4% é um bom sinal, mas ainda distante do que o país precisa para chamar de prosperidade.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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