Malásia
Foto: Ricardo Stuckert/PR

Kuala Lumpur — Ao participar neste domingo (26) da Reunião Empresarial Brasil-Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu um novo padrão de cooperação econômica entre países em desenvolvimento. Lula convidou empresários malásios a investirem no Brasil e destacou que “política comercial é uma via de duas mãos”. Mais do que a busca por investimentos, a viagem simboliza a tentativa de reposicionar o Brasil em uma ordem internacional em transição, apostando em alianças produtivas e tecnológicas para reduzir dependências externas.

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Durante a viagem do presidente ao país asiático, Brasil e Malásia assinaram sete instrumentos de cooperação, entre eles memorandos nas áreas de biotecnologia, semicondutores e sustentabilidade.

O movimento, embora técnico, representa uma mudança estratégica: desloca a política externa brasileira de uma postura reativa para uma de proposição, em que o país busca ocupar espaço na nova economia digital e energética.

A visita ocorre trinta anos após o último chefe de Estado brasileiro visitar o país e insere-se na agenda de fortalecimento do diálogo com o Sudeste Asiático.

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A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), bloco ao qual a Malásia pertence, é hoje o quinto maior parceiro comercial do Brasil. O comércio bilateral já ultrapassa US$ 5,8 bilhões anuais, com destaque para minério de ferro e petróleo, mas a agenda atual mira outro horizonte: ciência, chips, inovação e sustentabilidade.

Durante a cúpula empresarial, Lula afirmou que cabe aos países emergentes “trabalhar juntos para evitar que as mudanças ampliem as assimetrias entre desenvolvidos e em desenvolvimento”.

A fala resume o espírito de cooperação defendido pelo governo brasileiro — uma política externa que busca equilíbrio em um mundo cada vez mais multipolar.

O simbolismo da viagem vai além da diplomacia comercial. Ao propor parcerias tecnológicas, o Brasil sinaliza que pretende disputar protagonismo em setores estratégicos — e não apenas exportar matérias-primas.

Malásia
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O memorando sobre semicondutores, por exemplo, representa um passo na tentativa de integrar o país às cadeias produtivas de alta tecnologia, reduzindo vulnerabilidades como a dependência de chips importados, que já afetou a indústria nacional em crises recentes.

Em termos políticos, a aproximação com a Malásia expressa uma estratégia de fortalecer o diálogo Sul-Sul como instrumento de autonomia e diversificação econômica. Essa orientação, que se reflete em viagens recentes à Indonésia e à ASEAN, busca projetar o Brasil como ator capaz de mediar interesses globais sem se alinhar automaticamente a potências tradicionais.

O discurso de Lula, mais do que uma defesa da abertura comercial, sugere um modelo de desenvolvimento que une crescimento e soberania. Ao reconhecer as desigualdades entre o Norte e o Sul, o presidente propõe uma cooperação que gere oportunidades mútuas — uma diplomacia que aposta na interdependência produtiva, não na subordinação.

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Com esse movimento, o Brasil procura recuperar o papel de articulador entre economias emergentes, capaz de transformar sua presença no comércio internacional em política de Estado.

Em vez de competir pelos mesmos mercados, a ideia é construir alianças que sustentem uma globalização mais equilibrada — uma visão que, sem proclamar ideologias, retoma a noção de que o desenvolvimento é também uma forma de independência nacional.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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