Jucinara Lima da Agência Mural
0:00 / 0:00À meia-noite de 24 de novembro de 2010, a Agência Mural — então Blog Mural, hospedado na Folha de S.Paulo — publicava seu primeiro texto: “Lazer improvisado, mas que funciona”.
Assinada pela correspondente Bianca Pedrina, a reportagem retratava um campinho de terra do Jardim Brasília, na Parada de Taipas, zona noroeste de São Paulo, onde crianças improvisavam traves com chinelos e moradores capinavam o mato para manter o espaço em condições de uso.
Naquele período, a região tinha poucas opções de lazer. O campinho se firmava como um dos raros espaços coletivos do bairro e seguia ativo graças ao esforço da comunidade, que se mobilizava para garantir as partidas.
Quinze anos depois, a Mural voltou ao local para conferir o que mudou.
A paisagem é diferente, mas o papel social permanece. O antigo terrão passou por reforma promovida pelo poder público e foi entregue em 2024. Desde então, o espaço é chamado pelos moradores de Arena Jardim Brasília. A quadra recebeu grama sintética, novo alambrado e reorganização das áreas externas.
O entorno também mudou. Ao lado da quadra, há ainda uma área apelidada de “camarote”, com bancos, vasos, bandeiras e enfeites feitos com materiais reaproveitados. O espaço é usado para acompanhar os jogos e evidencia o cuidado cotidiano da própria comunidade.

A praça vizinha ganhou aparelhos de ginástica ao ar livre e brinquedos de madeira, ampliando o uso do local. Em uma tarde comum, adultos utilizam os equipamentos enquanto crianças alternam entre a quadra e o parquinho.
Apesar das mudanças estruturais, o vínculo dos moradores com o campinho segue o mesmo. Renato Silva, 37, cresceu jogando no terrão.
‘Eu jogava aqui com oito anos. As traves nem rede tinham, a bola era remendada… às vezes a gente chutava o chão e arrancava o tampão do dedo’
Renato, morador do Jardim Brasília

Hoje, passa pelo espaço no fim da tarde para acompanhar o sobrinho de 7 anos e reencontrar vizinhos. Aos domingos, participa das partidas entre veteranos.
A movimentação infantil continua intensa. Felipe Lira, 11, frequenta o campinho todos os dias após a escola para jogar X1, modalidade em que apenas dois jogadores se enfrentam, alternando ataques curtos e finalizações diretas no gol.
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“Aqui eu ganho todas. Meus amigos ficam bravos porque eu sou muito bom”, afirma, segurando a bola enquanto observa os colegas se organizarem.
Mesmo após a reforma, parte da manutenção ainda é feita pelos moradores, que se revezam para recolher o lixo, cortar a grama das laterais e colocar sacos plásticos nas lixeiras. Os materiais usados são doados por famílias do bairro, que mantêm a prática de cuidar do espaço desde a época do terrão.
Além dos jogos, a arena funciona como área de convivência do bairro. Nos dias de sol, moradores assistem às partidas nos bancos do “camarote”; em horários de menor movimento, adolescentes circulam pela quadra, andam de bicicleta ou se reúnem na praça ao lado. O espaço se consolidou como equipamento multifuncional, integrado ao cotidiano da vizinhança.
Este texto foi originalmente publicado na Agência Mural


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