Avanço dos BRICS redefine a disputa por influência global

Bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul amplia alianças comerciais, atrai novos membros e pressiona a ordem econômica internacional

O fortalecimento dos BRICS nos últimos anos consolidou o grupo como um dos polos mais relevantes da economia mundial. Criado em 2009 para articular interesses de grandes economias emergentes, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul vem expandindo sua presença no comércio internacional, fortalecendo instituições próprias e atraindo novos países interessados em aderir.

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O movimento redefine a disputa por influência global, até então dominada pelos Estados Unidos e por organismos multilaterais tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

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BRICS avançam em representatividade econômica

O peso econômico do bloco cresce ano a ano. Juntos, os cinco países fundadores representam cerca de 31% do PIB global, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional. Essa participação tende a aumentar com a entrada de novos membros e com o crescimento contínuo da China e da Índia, que são motores fundamentais da expansão.

Além do tamanho de suas economias, os BRICS concentram uma fatia relevante da população mundial — mais de 40% dos habitantes do planeta vivem nos países do grupo. Isso confere poder de consumo, mercado interno robusto e capacidade de ditar tendências em cadeias produtivas estratégicas, como energia, tecnologia e alimentos.

Esse avanço tem efeitos diretos sobre a dinâmica do comércio internacional. Países que antes dependiam fortemente das economias desenvolvidas encontram nos BRICS novos parceiros para exportações, investimentos e cooperação tecnológica.

Instituições próprias fortalecem a agenda do bloco

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Um dos principais símbolos da consolidação do grupo é o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado em 2014 com sede em Xangai. O banco foi pensado como alternativa ao Banco Mundial e já financia projetos de infraestrutura e energia sustentável em países emergentes.

A criação de mecanismos financeiros próprios, como sistemas de compensação em moedas locais e debates sobre o uso de moedas alternativas ao dólar, também fortalece a autonomia do bloco.

Essa movimentação coloca em xeque a hegemonia da moeda americana nas transações globais e amplia o debate sobre multipolaridade no sistema financeiro internacional.

O fortalecimento institucional sinaliza que os BRICS não são apenas uma aliança política, mas uma tentativa concreta de reorganizar fluxos de capital e investimentos em escala global.

Expansão do bloco e busca por novos parceiros

Nos últimos anos, o grupo passou a atrair países interessados em aderir à coalizão. A lista de candidatos inclui economias relevantes do Oriente Médio, da África e da América Latina. 

Para esses países, entrar nos BRICS significa ganhar voz em um fórum alternativo ao G7, além de acesso a linhas de crédito e a uma rede comercial em expansão.

Essa ampliação fortalece a ideia de que o bloco caminha para se tornar uma plataforma mais ampla de países emergentes e em desenvolvimento, o que pode alterar a correlação de forças em votações da ONU, em negociações comerciais multilaterais e em fóruns sobre clima e tecnologia.

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Impacto sobre o comércio internacional

A influência crescente dos BRICS já se reflete nos fluxos de comércio. O bloco intensifica acordos bilaterais e regionais, reduzindo a dependência de parceiros tradicionais.

O comércio entre os próprios membros cresceu mais de 50% na última década, impulsionado principalmente pela relação entre China, Índia e Brasil.

Além disso, países do grupo têm firmado acordos de exportação de energia, alimentos e insumos industriais diretamente entre si, criando cadeias de valor paralelas às dominadas pelo Ocidente.

Esse processo gera um efeito de arrasto: países que não integram o bloco também buscam aproximação para garantir acesso a mercados em crescimento.

Rivalidade com os organismos tradicionais

O avanço dos BRICS pressiona organismos internacionais estabelecidos. O FMI e o Banco Mundial, dominados pelos países desenvolvidos, veem parte de sua influência ser questionada.

A OMC, por sua vez, enfrenta dificuldades em intermediar disputas comerciais que envolvem os países do bloco, já que estes vêm priorizando negociações diretas ou acordos regionais.

Essa mudança de eixo não significa que os BRICS substituam completamente a ordem atual, mas sim que criam um sistema paralelo de influência.

Para investidores e empresas, isso representa novas oportunidades de mercado, mas também maior fragmentação nas regras de comércio e finanças internacionais.

Desafios internos e limitações

Apesar da expansão, o bloco enfrenta contradições internas. China e Índia, por exemplo, disputam espaço geopolítico na Ásia e têm relações tensas em questões de fronteira. A Rússia lida com sanções internacionais que afetam sua integração econômica.

Brasil e África do Sul enfrentam instabilidades políticas e desafios fiscais que limitam sua capacidade de liderança. Essas diferenças dificultam a construção de uma agenda unificada e podem atrasar projetos mais ambiciosos, como a criação de uma moeda comum.

Ainda assim, o interesse crescente de outros países em integrar o grupo mostra que a influência do bloco segue em expansão, mesmo diante de obstáculos.

Perspectivas de longo prazo

No cenário global, a tendência é que o bloco siga ampliando sua participação no comércio internacional, no financiamento de projetos estratégicos e na definição de padrões regulatórios em áreas como tecnologia e energia.

Para empresas e investidores, isso significa acompanhar de perto as movimentações do grupo. Novas cadeias de fornecimento, alternativas de financiamento e mercados consumidores em expansão podem redefinir estratégias globais de negócios.

Em um mundo cada vez mais multipolar, o fortalecimento dos BRICS mostra que a economia internacional não está mais concentrada em poucos centros de poder, mas distribuída entre múltiplos polos de influência.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos, com experiência em cobertura de mercado, políticas públicas e programas sociais. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Autor e fundador do portal IA do Dinheiro.

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