Crescimento da economia

Brasília — A economia brasileira voltou a crescer em agosto, com alta de 0,4% no Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), segundo o Banco Central, mas o avanço reflete mais estabilidade do que retomada, em meio a juros elevados e inflação acima da meta.

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Embora o dado confirme expansão, economistas apontam que o movimento reflete mais uma trégua na desaceleração do que um novo ciclo de fôlego.

O indicador, usado pelo Banco Central como termômetro auxiliar do Produto Interno Bruto (PIB), mostra que a economia segue operando em compasso de espera, diante da combinação de juros elevados e inflação acima da meta.

A taxa Selic, mantida em 15% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), continua sendo o principal freio à demanda.

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O próprio Banco Central reconheceu, em ata recente, que a estratégia é manter a taxa “por período bastante prolongado” até que a inflação retorne ao centro da meta, de 4,5%. No acumulado de 2025, o IBC-Br registra alta de 2,6%, variação compatível com um cenário de crescimento contido e pouca geração de novos postos formais de trabalho.

A desaceleração vem após quatro anos consecutivos de expansão do PIB, que fechou 2024 com alta de 3,4%. O atual resultado, embora positivo, indica perda de ritmo em comparação ao mesmo período do ano passado, quando a atividade se beneficiava do avanço dos serviços e da indústria de transformação.

Para o economista João Paulo de Castro, da consultoria Aurora Research, o dado de agosto “mostra uma economia que resiste, mas não avança”.

Segundo ele, “os setores que puxaram o PIB no primeiro semestre, como indústria e comércio, agora operam próximos da estabilidade, enquanto o consumo das famílias começa a sentir o peso dos juros altos e da recomposição de preços administrados”.

Crescimento da economia

O cenário internacional também contribui para a cautela. A recuperação desigual das economias desenvolvidas, as tensões comerciais entre China e Estados Unidos e a volatilidade dos preços do petróleo aumentam a incerteza sobre o comércio global — fator que impacta as exportações brasileiras, especialmente de commodities.

Outro ponto de atenção é a inflação. Depois de uma leve deflação em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir 0,48% em setembro, pressionado pela alta da energia elétrica.

Em 12 meses, o IPCA acumula 5,17%, acima do teto da meta. Esse comportamento reforça a decisão do Copom de manter a Selic em patamar elevado, mesmo diante de sinais de desaceleração na economia real.

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O resultado de agosto não altera, portanto, o quadro de “cautela forçada” que domina a política monetária. O Banco Central já havia sinalizado que o crescimento do terceiro trimestre seria modesto, sustentado pelo setor de serviços, enquanto a indústria segue com margens comprimidas e o agronegócio reduz a contribuição após safras recordes em 2024.

Na prática, o desempenho positivo do IBC-Br reforça a leitura de que o Brasil atravessa um período de estabilidade — nem recessão, nem aceleração. A expansão de 0,4% é suficiente para evitar revisões negativas, mas insuficiente para apontar retomada vigorosa. O país se mantém, assim, em uma linha tênue entre resiliência e estagnação.

O IBC-Br é divulgado mensalmente pelo Banco Central e funciona como um indicador antecedente do PIB, embora siga metodologia distinta. Ele combina informações da produção industrial, do volume de serviços, do comércio e do setor agropecuário, além da arrecadação de impostos.

O dado oficial do PIB referente ao terceiro trimestre será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro.

Até lá, o desafio para a economia brasileira continua o mesmo: equilibrar inflação e crescimento num ambiente de juros altos e confiança empresarial em baixa. Os 0,4% de agosto podem indicar estabilidade, mas não sinalizam recuperação.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e política internacional, dedicado a interpretar como o poder e os mercados influenciam o Brasil e o mundo.

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