Café brasileiro

São Paulo — O mapa do café brasileiro mudou em setembro. Com a imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos agrícolas nacionais, a Alemanha assumiu a liderança entre os destinos das exportações, e a Colômbia — tradicional concorrente e segundo maior produtor de café arábica do mundo — multiplicou em mais de cinco vezes suas compras do grão brasileiro. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em relatório produzido com apoio da Embrapa.

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Segundo o levantamento, as exportações totais do mês somaram 3,75 milhões de sacas de 60 quilos, queda de 18,4% em relação a setembro do ano anterior.

Mesmo assim, a receita cambial subiu 11,1%, alcançando US$ 1,37 bilhão — resultado do avanço dos cafés diferenciados, de maior valor agregado. A Alemanha importou 654 mil sacas, superando os Estados Unidos (332 mil), enquanto a Colômbia comprou 107 mil, um salto de 567% em um ano.

A inversão de posições revela mais que uma oscilação momentânea: expõe como o comércio global do café responde às pressões políticas e tarifárias.

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Desde agosto, o governo americano tem restringido produtos agrícolas brasileiros, impactando especialmente o café arábica, que respondeu por 79% das exportações. O impacto foi imediato, mas também acelerou a diversificação geográfica e o foco em mercados de nicho.

De acordo com o Cecafé, os cafés diferenciados — aqueles com certificação de origem, práticas sustentáveis ou qualidade superior — já representam 20% do total exportado em 2025. Esse movimento é estratégico para o setor, que busca reduzir dependência dos grandes compradores tradicionais e ampliar margens de lucro por meio da diferenciação.

A Europa e parte da Ásia têm ampliado a demanda por cafés certificados, enquanto novos destinos latino-americanos, como a própria Colômbia, se tornam importadores para suprir lacunas internas de oferta.

O salto colombiano surpreendeu analistas. A alta de 567% em setembro reflete tanto o efeito da quebra de safra local quanto a complementaridade produtiva entre os dois países.

Mesmo concorrente, a Colômbia tem recorrido ao grão brasileiro para garantir estabilidade no abastecimento e atender ao mercado interno e de exportação. No acumulado do ano, o país vizinho comprou 42% mais café do Brasil do que em 2024.

A recomposição de fluxos comerciais também confirma o fortalecimento de laços econômicos entre países produtores. A interdependência na cadeia global de café, antes vista como competição pura, passa a funcionar como rede de suprimento diante das pressões de preço e clima.

Essa dinâmica reforça o papel do Brasil como exportador estável e fornecedor de diferentes origens e perfis de qualidade. O impacto tarifário dos Estados Unidos, embora negativo no curto prazo, tem levado o setor a ajustar rotas e estratégias.

Exportadores brasileiros vêm priorizando contratos de longo prazo com países europeus, mais previsíveis do ponto de vista regulatório. Itália, Bélgica, Holanda e Espanha aparecem entre os dez maiores destinos, consolidando o continente como principal eixo de consumo.

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O avanço das exportações de cafés diferenciados também tem implicações econômicas diretas. Segundo o Cecafé, de janeiro a setembro o Brasil embarcou 5,9 milhões de sacas de cafés especiais, com receita de US$ 2,5 bilhões — uma expansão de 16% sobre o mesmo período de 2024.

Mesmo com menor volume, o setor mantém saldo positivo na balança comercial, impulsionado por preços superiores e demanda firme.

Com os Estados Unidos fora da liderança, o café brasileiro reposiciona seu eixo de influência global. A nova geografia comercial combina dependência menor de um único parceiro e ganhos de reputação com sustentabilidade e qualidade. Ao que tudo indica, o aroma do café brasileiro agora vem com mais diversidade e com menos vulnerabilidade política.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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