Alfabetização
Foto: Ricardo Stuckert/PR

Brasília (DF) — A sanção da Lei 15.247/25, que institui o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, marca o retorno do Estado brasileiro à coordenação direta das políticas de alfabetização. Publicada no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (3), a norma transforma em lei o compromisso firmado entre União, estados e municípios para garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até o fim do 2º ano do ensino fundamental. O novo marco recoloca o governo federal no centro da política educacional e inaugura uma fase de cooperação federativa que havia se enfraquecido nos últimos anos.

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A lei estabelece que a União será responsável por coordenar estratégias, programas e metas, oferecendo assistência técnica e financeira aos entes federativos. Cada estado e município, por sua vez, terá autonomia para definir as ações locais, adaptadas às suas realidades e indicadores.

A adesão ao programa é voluntária, mas implica o compromisso formal de implementar medidas de recomposição da aprendizagem e formação de professores.

Ao transformar o Compromisso Nacional em lei, o governo Lula tenta institucionalizar a política de alfabetização como responsabilidade de Estado, e não apenas de governo. O texto aprovado pelo Congresso teve origem no Senado, com relatoria de Cid Gomes (PSB-CE), e passou pela Câmara sob parecer favorável de Patrus Ananias (PT-MG).

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Ambos destacaram que a alfabetização é a base sobre a qual se assentam todas as políticas de educação, e que sem ela o país perpetua desigualdades sociais e regionais.

A iniciativa representa uma mudança de paradigma na relação federativa. Após anos de desarticulação entre os entes, a lei busca reconstruir o diálogo nacional sobre educação básica.

Durante o governo anterior, programas federais de apoio à alfabetização foram descontinuados, e os estados acabaram criando soluções isoladas, com resultados desiguais.

Agora, a estratégia é integrar esforços e restabelecer uma política nacional com metas unificadas e monitoramento permanente. O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou que a nova lei cria um ambiente de cooperação contínua.

“A alfabetização é o primeiro direito de toda criança na escola pública. É ela que define o sucesso escolar e a trajetória de aprendizagem. Com a lei, garantimos que nenhum gestor trate isso como política de ocasião”, afirmou.

Alfabetização
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O ministro também ressaltou que o Compromisso Nacional prevê indicadores de avaliação compartilhados e incentivos baseados em resultados, voltados especialmente às redes municipais, responsáveis pela alfabetização inicial.

Para especialistas em políticas públicas, a nova legislação também simboliza um passo importante na recomposição da autoridade do Ministério da Educação.

Para especialistas em políticas públicas, a nova legislação simboliza um passo importante na recomposição da autoridade do Ministério da Educação.

Ex-presidente do Inep, Maria Helena Guimarães de Castro avalia que a lei representa a retomada de uma política de alfabetização com direção nacional, baseada em evidências e cooperação federativa — uma linha que ela tem defendido em declarações recentes.

Segundo ela, o grande desafio agora será alinhar a formação de professores às novas diretrizes e garantir que os estados mantenham a adesão voluntária sem fragmentar o modelo.

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Além da meta de alfabetizar todas as crianças até o 2º ano, a lei também incorpora medidas voltadas à recomposição das aprendizagens perdidas durante a pandemia e às desigualdades regionais.

O texto prevê ações de apoio técnico, intercâmbio de boas práticas e criação de redes colaborativas de ensino. O Ministério da Educação deve divulgar ainda neste mês o primeiro plano de metas e indicadores estaduais.

O novo marco dialoga diretamente com a agenda de reconstrução institucional do governo Lula, que vem buscando reerguer políticas nacionais de longo prazo em áreas sociais estratégicas.

Assim como o novo PAC e o Mais Médicos, o Compromisso Nacional pela Alfabetização se insere em uma lógica de reconstrução do Estado como articulador de políticas públicas e garantidor de direitos.

Em um país onde metade dos alunos chega ao 3º ano sem ler e escrever adequadamente, a sanção da lei tem valor político e simbólico. Ela marca a tentativa de restaurar a confiança na capacidade do Estado de planejar e executar políticas públicas em escala nacional. Em outros termos, a alfabetização na idade certa deixa de ser uma meta de gestão para se tornar uma cláusula de desenvolvimento.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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