Ações da Cosan caem 18% e ampliam temores sobre diluição de acionistas

Oferta bilionária a R$ 5 por papel busca reduzir dívida, mas reação negativa na B3 expõe riscos para minoritários e pressiona valor de mercado

As ações da Cosan (CSAN3) despencaram mais de 18% após o anúncio de um aumento de capital de até R$ 10 bilhões, em operação que prevê a emissão de 2 bilhões de papéis a R$ 5 cada. O movimento, que levou o papel a leilão na B3, foi lido pelo mercado como um sinal de fragilidade financeira e trouxe à tona a preocupação com a diluição dos acionistas minoritários e com o peso da dívida da holding.

continua depois da publicidade

Prefere ouvir o artigo? Então aperte o play!

Oferta bilionária e a reação imediata

A decisão de lançar uma das maiores ofertas de ações do ano veio acompanhada da promessa de reduzir endividamento e melhorar a estrutura de capital.

A Cosan fechou acordos com investidores âncoras, como BTG Pactual e Perfin, para dar sustentação à operação. No entanto, o preço de R$ 5 por ação — bem abaixo da cotação de mercado antes do anúncio — foi visto como um convite à diluição, aumentando a percepção de risco entre minoritários.

O impacto foi imediato: as ações entraram em leilão e fecharam com queda de dois dígitos, refletindo o desconforto dos investidores com a perda de valor implícita. Para o mercado, a emissão reforçou a urgência de reforço de caixa, mas também evidenciou a dificuldade da companhia em acessar capital em condições mais favoráveis.

Estrutura de capital sob pressão

continua depois da publicidade

A Cosan carrega uma dívida líquida estimada em R$ 23,5 bilhões. O aporte bilionário anunciado pretende aliviar parte desse fardo, mas não resolve de imediato a questão da alavancagem. Ao priorizar o uso dos recursos para desalavancagem, a empresa busca reduzir despesas financeiras e ganhar fôlego operacional.

No entanto, o alívio pode ser temporário. Afinal, a holding depende fortemente da geração de caixa de suas controladas — Raízen, Rumo, Compass e Moove — para sustentar o ciclo de investimentos e o pagamento de juros.

A própria gestão deixou claro que os recursos da oferta não serão direcionados à Raízen, joint venture com a Shell que enfrenta margens pressionadas no setor de energia e biocombustíveis. Esse posicionamento ajudou a dissipar rumores de socorro imediato, mas não elimina a preocupação com a necessidade futura de novos aportes.

Diluição e incertezas para acionistas

O desenho da operação deixa evidente que quem não aderir à subscrição verá sua participação relativa reduzir significativamente. Em um cenário de cotação já pressionada, a percepção de perda de valor assusta investidores de varejo e institucionais. O risco de diluição é apontado como um dos principais motivos para a queda abrupta dos papéis.

Ao mesmo tempo, a Cosan abre mão de priorizar dividendos no curto prazo, concentrando esforços em reduzir a dívida. Isso pode afastar investidores que buscavam renda em meio à volatilidade da bolsa brasileira. O recado é claro: no momento, o foco é sobreviver financeiramente, não remunerar acionistas.

Avaliação de analistas e projeções de preço

A XP Investimentos classificou a operação como uma “transação histórica” e destacou que a emissão deve aliviar a estrutura de capital, mas ao custo de forte diluição para acionistas minoritários.

O BTG Pactual e a gestora Perfin aparecem como investidores âncoras, garantindo a primeira etapa da oferta, mas o mercado questiona se haverá apetite suficiente no follow-on aberto.

Entre as casas que acompanham a empresa, o consenso compilado pelo Investing.com aponta preço-alvo médio de R$ 12,38 para CSAN3, embora as estimativas variem bastante. 

Para analistas consultados por Suno e InfoMoney, a queda superior a 18% pode ter sido exagerada, refletindo principalmente a surpresa com o valor de emissão a R$ 5 por papel. 

Outros, porém, alertam que a pressão pode se prolongar até que a adesão à oferta seja confirmada e os efeitos na alavancagem fiquem mais claros.

Leia mais

Histórico recente da ação e comparação setorial

O desempenho da Cosan na bolsa já vinha mostrando sinais de fragilidade antes do anúncio do aumento de capital. Desde o início de 2025, CSAN3 acumulava volatilidade, alternando períodos de valorização com quedas expressivas.

Em agosto, o papel chegou a registrar ganhos, acompanhando o otimismo do mercado com o setor de energia, mas devolveu os avanços nas semanas seguintes.

Comparada a pares do setor, a trajetória da Cosan chama atenção pela intensidade do movimento. Enquanto Petrobras e Vale oscilaram em linha com fatores externos como preço do petróleo e minério, a Cosan sofreu mais com questões específicas de balanço e estrutura societária.

Mesmo a Raízen, controlada pela companhia, mostrou desempenho menos dramático no período, o que reforça a percepção de que a holding é particularmente sensível a choques financeiros.

Essa volatilidade histórica ajuda a explicar por que a reação ao anúncio da oferta foi tão brusca. Para investidores, a memória recente de oscilações reforça a cautela, tornando o processo de recomposição de confiança mais difícil.

Subsidiárias no radar e o cenário macro

A performance das subsidiárias segue como variável-chave para avaliar a recuperação da Cosan.

A Raízen enfrenta volatilidade nos preços de combustíveis e desafios de transição energética; a Rumo depende do desempenho das exportações agrícolas e da logística ferroviária; a Compass navega em um mercado de gás em reestruturação; e a Moove busca expandir no segmento de lubrificantes.

Qualquer fragilidade em uma dessas frentes pode comprometer a capacidade de geração de caixa consolidada.

No pano de fundo, o ambiente macroeconômico adiciona complexidade. Juros altos no Brasil, câmbio volátil e incertezas sobre a política monetária global influenciam diretamente o custo de capital e a atratividade de investimentos no setor de energia e infraestrutura. 

Nesse contexto, o sucesso do aumento de capital é apenas um passo de um processo maior: reconquistar a confiança do mercado e mostrar resultados consistentes em meio à pressão por desalavancagem.

Cotação e projeções de CSAN3

  • Fechamento antes do anúncio: ~R$ 7,50
  • Preço definido na oferta: R$ 5,00
  • Fechamento pós-anúncio: R$ 6,14 (queda de 18,13%)
  • Dívida líquida estimada da holding: R$ 17,5 bilhões (1S25)
  • Preço-alvo de consenso (Investing.com): R$ 12,38
  • Preço-alvo XP Investimentos: R$ 17,00

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos, com experiência em cobertura de mercado, políticas públicas e programas sociais. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Autor e fundador do portal IA do Dinheiro.

Scroll to Top