Racismo estrutural
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Racismo estrutural é o processo pelo qual o racismo deixa de ser apenas um ato individual e passa a integrar a lógica de funcionamento da sociedade, influenciando instituições, políticas públicas e relações sociais de maneira contínua e sistemática. No Brasil, essa dinâmica faz com que a população negra enfrente desigualdades persistentes em áreas como educação, saúde, renda, moradia e acesso a direitos básicos, não por circunstâncias isoladas, mas por uma estrutura histórica que produz e reproduz exclusão.

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O que significa o termo racismo estrutural

O termo “racismo estrutural” se refere a um sistema de desigualdades que está entranhado nas bases políticas, econômicas, sociais e culturais do país. Diferente do racismo individual — aquele praticado por uma pessoa contra outra — o racismo estrutural opera de forma ampla, silenciosa e muitas vezes naturalizada.

Ele se revela quando padrões de desigualdade se repetem por gerações, mantendo a população negra em desvantagem em praticamente todos os indicadores sociais relevantes.

Isso significa que o racismo estrutural não depende apenas da intenção direta de discriminar. Ele pode se manifestar mesmo quando não há um agente identificado cometendo um ato explícito de preconceito.

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Está presente na forma como oportunidades são distribuídas, em políticas públicas insuficientes, na ausência de reparação histórica e em mecanismos institucionais que perpetuam privilégios para alguns e barreiras para outros.

Por que ele acontece no Brasil

O Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão, em 1888, e não adotou políticas amplas de reparação, inclusão ou integração após esse período. Milhões de pessoas libertas foram deixadas à margem sem acesso a terra, trabalho formal, educação ou proteção social.

Ao mesmo tempo, o país construiu a narrativa da “democracia racial”, que sustentava a ideia de que não havia conflito racial relevante e de que a convivência entre brancos e negros era harmoniosa.

Na prática, essa narrativa serviu para invisibilizar as desigualdades e retardar políticas públicas efetivas. Enquanto isso, estruturas sociais e econômicas foram moldadas de forma a manter a população negra nas posições mais precarizadas.

Década após década, a ausência de ações consistentes produziu um ciclo que atravessa gerações: menor acesso a educação de qualidade resulta em menor inserção no mercado de trabalho formal, o que impacta renda, moradia, saúde, segurança e expectativa de vida.

O racismo estrutural também se fortaleceu por escolhas institucionais. Políticas públicas tardias, investimentos desiguais e tratamento discriminatório em diferentes esferas contribuíram para consolidar desigualdades profundas que não se explicam apenas por “circunstâncias sociais”, mas por um legado histórico de exclusão.

Racismo estrutural
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Como o racismo estrutural aparece no dia a dia

Os efeitos do racismo estrutural podem ser observados em várias áreas da vida social. Na educação, crianças e jovens negros enfrentam maior evasão escolar, têm menos acesso a escolas com boa infraestrutura e encontram mais obstáculos para chegar ao ensino superior, embora políticas como cotas tenham ampliado oportunidades nos últimos anos.

Na saúde, a população negra costuma ter piores condições de atendimento e maior exposição a doenças associadas à pobreza, além de enfrentar barreiras de acesso a serviços especializados.

Na segurança pública, o impacto é ainda mais evidente. A população negra representa a maior parte das vítimas de homicídio no país e está mais exposta à violência policial e prisional.

Essas dinâmicas não são fruto apenas de situações individuais, mas de uma forma de organização institucional que, historicamente, afeta mais intensamente determinados grupos.

No mercado de trabalho, o racismo estrutural se traduz em salários mais baixos, menor presença em cargos de liderança e maior concentração em atividades informais e precarizadas.

Essas desigualdades também aparecem na moradia, com maior presença da população negra em áreas periféricas com menos acesso a serviços públicos, saneamento básico e infraestrutura.

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Racismo estrutural não é o mesmo que racismo institucional

Embora relacionados, racismo estrutural e racismo institucional não são sinônimos. O racismo estrutural é a lógica ampla que organiza a sociedade e sustenta desigualdades históricas.

Já o racismo institucional ocorre quando uma instituição específica — como escola, hospital, polícia, Judiciário ou órgão público — age, por ação ou omissão, de forma a produzir ou reforçar tratamento desigual.

O racismo institucional é, portanto, uma das manifestações concretas do racismo estrutural. 

Quando políticas públicas falham sistematicamente com a população negra, quando serviços essenciais atendem de forma precária determinados grupos ou quando práticas discriminatórias se repetem dentro de instituições, isso revela o funcionamento dessa engrenagem estrutural.

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O que o STF discute quando fala de racismo estrutural

Ao reconhecer a existência de racismo estrutural no Brasil, o Supremo Tribunal Federal aponta que o problema não é episódico, mas constante, enraizado e diretamente relacionado à atuação — ou à omissão — do Estado.

O debate no tribunal destaca que a superação dessas desigualdades não depende apenas de iniciativas individuais ou pontuais, mas exige políticas públicas amplas, coordenadas e permanentes.

A análise feita pela Corte leva em conta fatores históricos, sociais e institucionais, reconhecendo que o racismo afeta o exercício pleno da cidadania e compromete a própria ideia de democracia.

Ao discutir metas, prazos e fiscalização, o Supremo coloca o tema dentro do campo da responsabilidade estatal, reforçando que enfrentar o racismo estrutural não é apenas uma questão moral, mas também institucional e jurídica.

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Por que discutir racismo estrutural importa para o futuro do país

Compreender o racismo estrutural significa reconhecer que desigualdades não são meramente resultado de escolhas individuais, mas de um sistema que precisa ser enfrentado de maneira consistente.

Quando o debate chega às esferas mais altas do Estado, ele deixa de ser apenas uma discussão acadêmica ou social e se transforma em pauta de política pública, planejamento e definição de prioridades nacionais.

Portanto, discutir o racismo estrutural é discutir desenvolvimento, democracia, justiça social e igualdade de direitos.

É enfrentar um problema que atravessa séculos e que ainda define quem tem mais oportunidades e quem segue limitado pelo peso das desigualdades históricas.

Ao trazer esse tema para o centro da agenda, instituições e sociedade são desafiadas a reconhecer, compreender e agir diante de uma das questões mais profundas da realidade brasileira.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e editor-chefe da IA Dinheiro. Produz reportagens e conteúdos diários com foco em economia, política, justiça e políticas sociais.

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