A sexta-feira (05) marcou um ponto de inflexão para a direita brasileira. Enquanto Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Romeu Zema ainda tentavam se posicionar como sucessores viáveis do antipetismo no pós-Bolsonarismo, a decisão do ex-presidente — mesmo preso — de anunciar Flávio Bolsonaro como candidato à Presidência em 2026 destruiu qualquer pretensão de reorganização do campo conservador.
A reação foi imediata: dólar subindo, bolsa em queda e um silêncio constrangido entre governadores, deputados e dirigentes partidários que, nas últimas semanas, ensaiavam conversas discretas com o mercado e com setores da mídia em busca de uma “direita palatável”.
O anúncio terminou com todas essas negociações. Se havia alguma expectativa de profissionalização, moderação ou construção de um projeto alternativo ao bolsonarismo, ela morreu hoje.
A escolha de Flávio não é estratégica — é defensiva. É mais uma jogada de sobrevivência de um clã que percebe o cerco jurídico se fechando e aposta no próprio sobrenome como moeda de negociação. Bolsonaro sabe que não terá condições formais de disputar 2026.
Sabe também que seu capital político derrete a cada semana que passa. Restou-lhe um último recurso: lançar o filho como escudo protetor de sua biografia e, quem sabe, de sua pena.
Mas se o pai tinha carisma e timing eleitoral, Flávio não tem nenhum dos dois. Não empolga o eleitorado raiz, não conquista os grupos militares, não agrada ao mercado e tampouco é visto como líder por governadores que construíram suas próprias bases.
A direita, que já era fragmentada, agora se vê submetida a uma candidatura obrigatória, imposta por quem não tem mais nada a oferecer além da própria ruína.
Para o mercado financeiro, a decisão foi a confirmação de um problema que tentavam ignorar: o bolsonarismo nunca teve compromisso com estabilidade, previsibilidade ou responsabilidade fiscal.
Bancar Tarcísio, Zema ou Caiado era um sonho de consumo da Faria Lima — a tentativa de domesticar o radicalismo e convertê-lo em neoliberalismo puro. Esse plano durou pouco. A realidade bateu à porta com violência: quem manda na direita continua sendo o núcleo radical emocional e improvisado do bolsonarismo.
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A centro-direita — PSDB, União Brasil, MDB, Cidadania — também viu seus planos ruírem. Flávio Bolsonaro na disputa não unifica ninguém e atomiza ainda mais o campo conservador, empurrando parte dos eleitores para a abstenção e outra parte para candidaturas marginais.
Se havia a esperança de uma direita “aceitável”, técnica e liberal, ela se dissolveu no momento em que Bolsonaro apertou o botão vermelho da autopreservação.
Ao anunciar Flávio, o ex-presidente selou a implosão da direita. Não por força programática — que nunca existiu — mas por incapacidade de reconhecer sua própria fragmentação.
O bolsonarismo acredita que pode repetir 2018, mas o país mudou, o cenário mudou e a rejeição ao radicalismo cresceu. Colocar Flávio no jogo não fortalece o movimento: evidencia seu esgotamento.
No fim, a direita chega a 2026 sem unidade, sem liderança, sem narrativa e sem projeto. O único programa político que restou é salvar Bolsonaro. E isso, ironicamente, pode ser justamente o que sepultará de vez seu legado.











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