Moscou (Rússia) — Em meio às novas tarifas impostas pelos Estados Unidos contra produtos indianos, o presidente russo Vladimir Putin afirmou nesta quinta-feira (4) que a Índia consolidou posição de grande potência ao não ceder à pressão externa e manter sua cooperação econômica com Moscou. Em entrevista à India Today, ele elogiou o primeiro-ministro Narendra Modi e afirmou que o comércio bilateral já opera majoritariamente em moedas nacionais, movimento que, segundo o Kremlin, reduz a dependência de sistemas financeiros dominados por instituições norte-americanas.
A declaração de Putin é fundamentada no fato de que a Índia continua comprando petróleo russo mesmo após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter imposto uma tarifa adicional de 25% sobre produtos indianos por conta dessa relação entre os dois países.
O presidente russo afirmou que práticas de coerção comercial tendem a gerar “perdas” aos próprios autores, defendendo que o cenário internacional mudou desde o pós-guerra.
Na avaliação expressa por ele, tratar a Índia como se ainda fosse uma ex-colônia britânica revela uma leitura ultrapassada das dinâmicas atuais. Seus elogios a Modi reforçam essa interpretação: para Putin, o premiê indiano “não cede à pressão”, e isso exemplifica o reposicionamento de economias emergentes diante das disputas entre grandes potências.
Putin destacou ainda que mais de 90% das transações entre Rússia e Índia já são realizadas em rublos e rupias.
O avanço desse mecanismo reflete não apenas a necessidade russa de contornar sanções, mas também o interesse indiano em ampliar margens de manobra frente às oscilações geopolíticas. Segundo ele, o uso de sistemas de mensagens financeiras próprios aproxima os dois países de arranjos menos suscetíveis a bloqueios externos.
A reação indiana às tarifas norte-americanas confirma essa busca por equilíbrio. Embora o governo Modi trabalhe para preservar relações estratégicas com os EUA em áreas como defesa e tecnologia, a decisão de manter compras de petróleo russo indica que o país não pretende subordinar sua política energética a disputas geopolíticas.

Ainda que o governo indiano tenha ajustado fornecedores adicionais, inclusive anunciando uma parceria com o Brasil no fornecimento de petróleo bruto, isso serve mais para reduzir eventuais riscos de abastecimento do que para atender às pressões de Washington.
O movimento mais recente reforça essa leitura. Dados preliminares das consultorias Kpler e OilX mostram que as importações indianas de petróleo russo aumentaram em outubro, contrariando expectativas de retração após as tarifas.
O crescimento sugere que o impacto das medidas norte-americanas foi limitado e que o mercado indiano continua apostando na combinação de custo competitivo e estabilidade de oferta proporcionada por Moscou.
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E para além da disputa comercial imediata, a interação entre Rússia e Índia expõe também transformações mais amplas no sistema internacional. A diversificação monetária, a ampliação de instrumentos financeiros próprios e a resistência a pressões unilaterais refletem a tentativa de países emergentes de reduzir vulnerabilidades históricas.
Moscou, pressionada por sanções ocidentais, vê na aproximação com Nova Délhi uma via de recomposição econômica; a Índia, por sua vez, enxerga vantagem em manter múltiplos parceiros em um mundo cada vez mais fragmentado.
Esse cenário ajuda a explicar por que a retórica russa encontra eco parcial no discurso indiano, mesmo que os interesses dos dois países não coincidam em todas as frentes.
A disposição de Modi em preservar relações diversificadas — dos EUA à Rússia — sustenta a narrativa de autonomia que Putin tenta amplificar. Ao destacar a capacidade indiana de resistir à pressão, o presidente russo busca reforçar a ideia de um equilíbrio global mais distribuído e menos dependente dos centros tradicionais de poder.
À medida que a competição entre potências se intensifica, a relação entre Rússia e Índia deve permanecer relevante tanto pelo impacto energético quanto pelo simbolismo político.
A convergência atual, marcada por pragmatismo e conveniência, aponta para um sistema internacional no qual países emergentes moldam, com maior firmeza, os termos de sua participação e contestam mecanismos de pressão que historicamente favoreceram as maiores economias ocidentais.











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