Adele Robichez e Larissa Bohrer do Brasil de Fato
0:00 / 0:00O modelo educacional imposto pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, com obrigatoriedade de plataformas digitais e slides prontos na rede estadual, não tem fundamento pedagógico e funciona, na prática, como um mecanismo de vigilância sobre docentes. A avaliação é do professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Cara destacou que, “se fosse uma questão de educação e pedagogia, Renato Feder jamais seria secretário estadual de Educação”, ressaltando que o secretário, empresário do setor de tecnologia, “não conhece nada de educação”.
Segundo o professor, o material padronizado que Feder determina que os professores sigam, muitas vezes minuto a minuto, empobrece o ensino e desrespeita a formação dos profissionais da rede. “Eu tenho vergonha de ter um secretário de Educação que não confia na própria rede, que acha que tem que controlar o professor por plataformas digitais e pelo ChatGPT [inteligência artificial da OpenAI]”, disse.
Ele classificou a qualidade dos slides como “assustadoramente fraca”. Além disso, para o educador, uma aula de qualidade não pode ser construída a partir de um roteiro imposto externamente. “Nenhum professor dá uma boa aula com base em um material preparado por outra pessoa. É impossível”, criticou.
Cara afirma que o governo estadual descarta a autoria pedagógica dos docentes e, com isso, “atua contra a educação do povo paulista”. O resultado, aponta, é que “o estado mais rico da federação continua tendo uma péssima educação”.
As críticas vieram após o Ministério Público de São Paulo (MPSP) e a Defensoria Pública (DPESP) entrarem na Justiça contra o uso obrigatório das plataformas. Cara considera positiva a atuação dos órgãos, embora lamente que o tema precise ser judicializado.
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“A justiça teve que entrar em uma briga que deveria ser uma questão de educação e de pedagogia”, indicou. Para ele, isso demonstra o quanto o governo paulista se recusa a ouvir os educadores e pesquisadores.
O professor também destacou que pesquisas do grupo Rede Escola Pública e Universidade (Repu), coordenado por seu colega Fernando Cássio, têm mostrado impactos negativos do modelo. Cara manifestou ainda o seu apoio à mobilização dos docentes contra a política de Feder. “Quero deixar registrado o meu agradecimento e a minha disponibilidade de lutar junto aos professores contra essas plataformas”, declarou.











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