LGBTQIA+
Foto: Agência de Notícias do Mato Grosso do Sul

Campo Grande (Brasil) — O Governo de Mato Grosso do Sul apresentou nesta terça-feira (2) o painel inédito sobre a população LGBTQIA+ do Estado, criado pela Secretaria de Estado da Cidadania e pela UFMS, com o objetivo de reunir dados oficiais sobre identidade, direitos, violência e políticas públicas.

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A iniciativa estabelece um marco institucional ao consolidar dados que estavam dispersos entre cartórios, secretarias municipais, órgãos de saúde, registros de segurança e serviços de assistência social.

O painel permite identificar movimentos demográficos, desigualdades regionais, uso de nome social, padrões de violência e formas de organização familiar, compondo um retrato que até então permanecia obscuro para gestores públicos.

Para um Estado com forte desigualdade territorial, a ausência dessas informações representava um obstáculo permanente à criação de políticas mais eficientes.

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O Observatório da Cidadania, responsável pela ferramenta, foi criado para apoiar decisões baseadas em evidências e já havia produzido painéis voltados a mulheres, idosos, juventude, população negra e pessoas com deficiência.

A inclusão da população LGBTQIA+ amplia esse escopo e estabelece uma linha de base para monitoramento constante, permitindo que governos locais identifiquem fragilidades em suas políticas e projetem ações adequadas à realidade de cada município.

Um dos elementos que mais chamaram atenção na apresentação foi a desigualdade na coleta e na qualidade das informações. Enquanto cidades maiores registram adesão crescente ao uso de nome social e maior acesso a serviços públicos, pequenos municípios ainda carecem de registros básicos.

Essa ausência de dados, agora exposta, evidencia o tamanho da distância entre o que o Estado prevê como política e o que de fato chega à população em regiões mais isoladas.

Outro ponto revelado é o crescimento de registros civis envolvendo pessoas LGBTQIA+, especialmente entre mulheres, indicando mudanças sociais importantes e ampliando o debate sobre quais políticas de apoio à diversidade familiar ainda precisam ser estruturadas.

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O painel também mostra que a violência continua sendo um marcador central da experiência dessa população, com registros que variam significativamente entre municípios e apontam para realidades locais ainda pouco documentadas.

Para os gestores públicos, o painel funciona como ferramenta de planejamento. O acesso integrado a dados antes fragmentados possibilita identificar onde as demandas são mais urgentes, quais políticas estão funcionando, quais serviços estão ausentes e que grupos estão mais expostos a violações.

Em um país onde a violência contra pessoas LGBTQIA+ permanece elevada e onde políticas públicas frequentemente oscilam conforme mudanças de governo, a institucionalização dessa base de informações é vista como um passo estratégico.

A ferramenta também cria oportunidades para a sociedade civil, pesquisadores e movimentos sociais. Com dados abertos, organizações podem pressionar por políticas mais robustas, monitorar ações governamentais e propor ajustes fundamentados.

Ayo Rosas, integrante do Coletivo Transpor que esteve presente ao evento, disse em entrevista para a Agência de Notícias do Mato Grosso do Sul que “Ter dados muda tudo. É com eles que cobramos políticas de educação, trabalho e saúde. É a prova de que existimos, e de que estamos sendo deixadas para trás.” 

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Dessa forma, municípios que pouco aparecem nos noticiários ou nas agendas políticas passam, pela primeira vez, a integrar um mapa estadual que evidencia desigualdades estruturais e vulnerabilidades ignoradas durante décadas.

Desde sua criação, o Observatório tem funcionado como um espaço de articulação entre universidade, Estado e sociedade. A inclusão da população LGBTQIA+ reforça a ideia de que políticas públicas eficazes dependem de diagnósticos precisos, e que invisibilidade estatística é, por si só, uma forma de violação de direitos.

Ao tornar os dados públicos e acessíveis, o governo sinaliza que reconhecer a existência dessas pessoas é parte fundamental do processo de reparação histórica.

Mais do que um avanço técnico, o painel inaugura uma nova etapa da política estadual ao iluminar caminhos para reduzir desigualdades e ampliar direitos.

Em um contexto nacional em que essa população ainda enfrenta altos índices de violência, discriminação e exclusão territorial, Mato Grosso do Sul dá um passo necessário: transformar evidências em instrumentos de ação.

Redação IA Dinheiro

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A Redação IA Dinheiro produz reportagens e conteúdos com foco em democracia, desigualdade e políticas públicas.

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