Frente popular do Panamá

Cidade do Panamá (Panamá) — A Frente Nacional para a Defesa dos Direitos Econômicos e Sociais do Panamá (Frenadeso) pediu ao governo panamenho que deixe de apoiar a escalada militar dos Estados Unidos no Caribe, alertando que a postura de Washington pode desencadear ações armadas em larga escala contra países latino-americanos. O movimento cobra a anulação de um acordo militar com os EUA e acusa a administração local de violar compromissos de soberania e paz assumidos no âmbito regional.

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Em carta enviada ao Ministério das Relações Exteriores, a Frenadeso afirma que ofensivas norte-americanas contra embarcações civis, justificadas como operações antidrogas, já resultaram em pelo menos 80 execuções extrajudiciais.

Segundo a entidade, tais ações configuram crimes contra a humanidade e afrontam normas internacionais destinadas a preservar a coexistência pacífica entre as nações. A crítica se estende ao discurso norte-americano que associa governos latino-americanos ao narcotráfico, prática que o grupo considera uma repetição de métodos usados desde a década de 1990.

A organização também rejeita a narrativa de Washington sobre o chamado “Cartel de los Sóis”, apresentado como estrutura criminal vinculada ao governo venezuelano.

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Para a Frenadeso, a acusação carece de provas e funciona como instrumento político para justificar agressões e para sustentar a classificação da Venezuela como “narcoestado”, apesar de avaliações internacionais que não atribuem ao país protagonismo no tráfico global.

O movimento compara a atual retórica dos EUA a estratégias que antecederam intervenções no Iraque, na Síria, na Líbia e ao histórico episódio da invasão do Panamá em 1989.

O alerta ganha peso diante do contexto interno. O novo governo panamenho, liderado por José Raúl Mulino, tem ampliado interlocução com autoridades norte-americanas, inclusive recebendo figuras políticas alinhadas à Casa Branca e assinando um memorando de entendimento que pode permitir presença militar permanente dos EUA no país.

O acordo, segundo a Frenadeso, foi firmado sem aval legislativo ou consulta popular e abre caminho para bases militares e controle reforçado sobre o Canal do Panamá, tema historicamente sensível para a soberania nacional.

A entidade lembra que as ameaças dos Estados Unidos de retomar influência direta sobre o Canal foram reiteradas recentemente, sob a justificativa de suposta ampliação da presença chinesa na região.

Para movimentos sociais panamenhos, esse discurso reacende tensões geopolíticas e reposiciona o país em meio a disputas de poder que contrariam o caráter civil, autônomo e pacífico estabelecido após décadas de luta pela soberania do canal.

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Ao evocar a Declaração de Havana de 2012, assinada pelo Panamá no âmbito da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a Frenadeso argumenta que a América Latina foi formalmente reconhecida como Zona de Paz e que o governo deve se orientar por esse compromisso.

O grupo vê no memorando militar um afastamento desse princípio, transformando o país em plataforma de hostilidades contrárias à estabilidade regional.

A posição da Frenadeso também reflete uma preocupação mais ampla com o impacto da militarização na vida cotidiana e no ambiente democrático do Panamá.

Para organizações populares, ceder território e infraestrutura a intervenções estrangeiras enfraquece a autonomia do país, fragiliza a capacidade do Estado de mediar crises sem pressões externas e coloca a população a riscos que não representam seus interesses.

Esse diagnóstico ecoa debates que atravessam a América Latina sempre que governos enfrentam dilemas entre cooperação militar e preservação soberana.

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A entidade conclui que a única garantia de proteção efetiva ao Canal do Panamá é a manutenção de sua neutralidade, princípio que se distancia da assinatura de pactos que ampliem o poderio militar dos Estados Unidos na região.

Para a organização, permitir que o território panamenho seja utilizado como rampa para agressões contra outros países latino-americanos viola não apenas a soberania nacional, mas também a tradição diplomática de integração e estabilidade que o país consolidou ao longo das últimas décadas.

Com exercícios militares conjuntos previstos para começar nesta sexta-feira (28), a Frenadeso exige que o governo anule o acordo com Washington e suspenda imediatamente qualquer cooperação que possa inserir o Panamá em conflitos alheios.

O movimento aposta na pressão social para impedir que o país volte a ser palco de interesses geopolíticos externos e para reafirmar que a segurança regional depende menos de armamentos e mais do respeito à soberania e ao diálogo entre as nações.

Redação IA Dinheiro

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Equipe editorial dedicada a explicar decisões do Estado, traduzir políticas públicas e orientar cidadãos sobre como acessar seus direitos e benefícios sociais.

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