Bolsonaro
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Brasília (DF) — O Partido Liberal suspendeu nesta quinta-feira (27) todas as atividades partidárias e a remuneração de Jair Bolsonaro, após o ex-presidente iniciar o cumprimento da pena imposta pela Ação Penal 2668, que o condenou por tentativa de golpe de Estado. A sigla afirma ter sido obrigada pela legislação a afastá-lo, enquanto o país assiste às primeiras consequências concretas da condenação que marcou o ponto mais alto da crise institucional gerada pelo bolsonarismo.

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O comunicado do PL justificou a medida apelando ao cumprimento da Lei nº 9.096/95, que impede dirigentes e filiados com direitos políticos suspensos de exercer funções partidárias.

Bolsonaro, presidente de honra do partido, deixou de receber o salário pago pela legenda e permanecerá afastado enquanto durarem os efeitos da condenação. A sigla sustentou que a decisão é “infelizmente” compulsória, numa tentativa de equilibrar o dever legal com a necessidade de preservar a base eleitoral do ex-presidente.

Bolsonaro começou a cumprir a pena nesta semana e permanece detido na sede da Polícia Federal em Brasília. Sua prisão encerra anos de tensão institucional que se intensificaram após o período eleitoral de 2022 e culminaram na acusação de articular uma trama golpista.

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A imagem do ex-presidente sendo transferido sob forte aparato de segurança marcou mais um capítulo do desmonte político de um movimento que ascendeu prometendo ruptura, mas terminou confrontado pela própria ordem democrática que buscou fragilizar.

A repercussão interna no partido foi imediata. O senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, publicou mensagem defendendo a suspensão como um ato obrigatório e não desejado pelo PL. Ele reafirmou apoio ao pai e convocou aliados à unidade.

A fala tenta conter o desgaste em um grupo já pressionado pela perda de influência e pela dependência eleitoral da figura de Bolsonaro, agora juridicamente impossibilitado de atuar.

A decisão do PL, porém, vai além da burocracia partidária. Ela simboliza o início de um reposicionamento inevitável para a direita institucional, que sempre orbitou o capital político do ex-presidente e agora se vê diante da necessidade de redefinir sua identidade.

Bolsonaro
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A suspensão do salário e das atividades é um gesto que, mesmo revestido de tecnicidade, revela o cálculo pragmático de uma sigla que busca se proteger dos efeitos corrosivos de uma condenação histórica.

No campo político mais amplo, o afastamento expõe a transição de um ciclo. A presença de Bolsonaro moldou a agenda pública por anos, tensionou instituições e aprofundou divisões sociais.

Com sua prisão e perda de direitos, abre-se um vácuo que reorganiza forças e pressiona o campo conservador a abandonar a lógica de confronto permanente que marcou sua estratégia recente.

É um processo que tende a reposicionar debates, reconstruir alianças e exigir da direita uma capacidade de formulação que não dependa exclusivamente do carisma destrutivo do ex-presidente.

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Ao mesmo tempo, o episódio reitera a centralidade das instituições brasileiras na contenção de aventuras autoritárias. A execução da pena e a consequente suspensão das atividades partidárias reforçam que a responsabilização jurídica — ainda que tardia — delimita os limites democráticos e devolve previsibilidade ao jogo político.

O afastamento do ex-presidente do comando formal de seu partido, mesmo que simbólico, sinaliza que a vida institucional segue operando acima do personalismo eleitoral.

Flávio Bolsonaro tenta projetar resiliência ao pedir unidade, mas a mensagem reflete mais o isolamento do que a força do grupo. A prisão do ex-presidente altera a dinâmica interna do bolsonarismo, que terá de lidar com a ausência de seu líder e com a erosão inevitável de um projeto que dependia de sua presença contínua.

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A suspensão decretada pelo PL, embora apresentada como cumprimento de lei, é um marco político: torna visível a fragilidade de um movimento que, sem seu eixo central, perde a capacidade de ditar a pauta nacional.

Com os efeitos da condenação ainda desdobrando-se, o partido e o campo conservador enfrentam um período de incerteza. A suspensão do ex-presidente não encerra o ciclo de responsabilização, mas inaugura a etapa em que suas consequências se tornam palpáveis para aliados e adversários.

E, à medida que o espaço institucional se reorganiza, o Brasil entra em uma fase em que a disputa política tende a ser menos atravessada por aventuras golpistas e mais pressionada pela reconstrução de agendas capazes de responder aos desafios concretos do país.

Redação IA Dinheiro

Redação IA Dinheiro

Equipe editorial dedicada a explicar decisões do Estado, traduzir políticas públicas e orientar cidadãos sobre como acessar seus direitos e benefícios sociais.

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