Desigualdade nas periferias

Ivan Costa da Agência de Notícias das Favelas (ANF)

A realidade da juventude negra baiana ao longo da última década revela um cenário complexo, marcado por desigualdades estruturais, mas também por importantes sinais de avanço — especialmente no que diz respeito à permanência escolar. É o que mostra o boletim “Para pensar o futuro: Juventude Negra e Mercado de Trabalho na Bahia”, apresentado nesta segunda-feira (24) durante a abertura do Encontro do Trabalho Decente e Combate ao Racismo.

continua depois da publicidade

O estudo integra as ações do Observatório do Trabalho da Bahia e resulta de uma parceria entre a Sepromi, a Setre e o Dieese, com apresentação da técnica Ludmila Giuli. A divulgação acontece dentro da programação do Novembro Negro 2025, reforçando a necessidade de políticas de combate ao racismo e de proteção da juventude — especialmente nas favelas e periferias do estado, onde os impactos são ainda mais intensos.

Queda da juventude negra e impactos nas periferias

De acordo com o boletim, houve uma redução significativa no número de jovens negros de 15 a 29 anos na Bahia entre 2013 e 2023. Eles representavam 35,4% da população em idade de trabalhar em 2013, mas passaram para 29,4% em 2023.

Essa queda impacta diretamente as favelas e periferias, onde a juventude negra compõe a maioria da população e, muitas vezes, enfrenta maiores barreiras de acesso a trabalho, renda e educação. A redução foi especialmente maior entre adolescentes de 15 a 17 anos, faixa etária crucial para políticas de prevenção ao trabalho infantil e de estímulo à permanência escolar.

continua depois da publicidade

A taxa de participação — que mede quantos jovens estão trabalhando ou buscando emprego — caiu durante a pandemia, mas voltou a crescer entre os jovens negros em 2022, quando atingiu 64,2%, o maior valor da série histórica. Em 2023, houve uma pequena queda para 61,2%, mas o índice segue maior que o dos jovens não negros e o da população acima de 30 anos.

O boletim destaca que, em períodos de crise econômica, os jovens não negros conseguem permanecer mais tempo fora do mercado de trabalho, apoiados por maior suporte financeiro familiar. Já os jovens negros, especialmente os das periferias, são pressionados a ingressar no trabalho mais cedo, muitas vezes aceitando ocupações precarizadas para complementar a renda doméstica.

Leia Mais

Avanços na permanência escolar

O estudo também traz boas notícias: a permanência estudantil entre adolescentes negros de 15 a 17 anos cresceu de forma expressiva. Em 2013, 63,8% apenas estudavam; em 2023, esse número subiu para 74,3%.

Além disso, houve queda de 29,8% no número de jovens negros que estudavam e trabalhavam ou procuravam trabalho. Entre aqueles que não estudavam e não trabalhavam, a queda foi ainda maior: 56,9%.

Esses resultados estão diretamente ligados a políticas de permanência escolar, como:

  • Bolsa Presença (Governo da Bahia)
  • Pé-de-Meia (Governo Federal)
  • Ações de combate ao trabalho infantil e programas de transferência de renda

Nas favelas e periferias, onde o abandono escolar é mais comum devido à necessidade de trabalhar cedo, esses programas têm impacto direto, ajudando famílias e ampliando oportunidades para jovens que historicamente foram excluídos das políticas públicas.

continua depois da publicidade

Mudanças demográficas exigem novas investigações

Apesar dos avanços, o boletim alerta que parte da redução da inserção precoce no trabalho e do aumento da permanência escolar pode estar ligada à própria queda da população negra jovem na Bahia. Entre 2013 e 2023, o número de adolescentes negros de 15 a 17 anos caiu 14,1%, enquanto entre os não negros houve crescimento de 21,3%.

Essa mudança demográfica exige novos estudos, especialmente porque afeta diretamente comunidades periféricas, que perdem parte significativa de sua juventude — seja por mudanças populacionais, deslocamentos ou violência.

Agência de Notícias das Favelas (ANF)

Agência de Notícias das Favelas (ANF)

Agência de Notícias das Favelas (ANF) é um veículo independente dedicado a amplificar as vozes das comunidades periféricas do Brasil. Produz reportagens, entrevistas e coberturas sobre cultura, direitos humanos, juventude, política, educação e o cotidiano das favelas brasileiras.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Ainda não há comentários nesta matéria.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima