Violência digital contra mulheres
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Nova York (EUA) — A ONU alertou nesta terça-feira (25) que a violência digital contra mulheres e meninas se tornou uma das faces mais rápidas e sofisticadas da misoginia contemporânea, ampliada por assédio, deepfakes e compartilhamentos abusivos, e pediu ação global urgente para conter a escalada desse fenômeno que cruza o virtual e o físico.

continua depois da publicidade

O Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres trouxe, neste ano, um diagnóstico particularmente grave das Nações Unidas: os espaços digitais se converteram num dos principais palcos de abuso, assédio e exploração.

A mensagem do secretário-geral António Guterres cobra que governos, empresas de tecnologia e sociedade civil tratem a violência online não como extensão menor da violência física, mas como uma ameaça estrutural aos direitos humanos.

O alerta surge num contexto em que práticas como perseguição digital, discursos de ódio e vazamento de imagens íntimas se espalham com mais velocidade do que qualquer capacidade institucional de resposta.

continua depois da publicidade

A campanha global Una-se pelo Fim da Violência Digital contra Mulheres e Meninas reforça que a tecnologia — hoje indispensável para trabalho, participação pública e educação — pode também transformar-se numa ferramenta de vigilância, manipulação e repressão.

Guterres destacou que a violência digital não permanece confinada às telas. O ciclo costuma evoluir de assédio e chantagem para agressões físicas e, em casos extremos, femicídio.

O secretário-geral defende que criminalizar essas práticas, garantir amparo às sobreviventes e responsabilizar empresas que lucram com o engajamento gerado pelo ódio são passos essenciais para reconstruir ambientes seguros.

Ao classificar a violência digital como “flagelo global”, Guterres aponta para o efeito multiplicador das tecnologias emergentes, especialmente as baseadas em inteligência artificial.

Violência digital contra mulheres
Imagem: Rovena Rosa / Agência Brasil

Deepfakes misóginos, campanhas de difamação e ataques coordenados ganham escala inédita, deslocando limites éticos e ampliando riscos para mulheres com visibilidade pública, como jornalistas, ativistas e defensoras de direitos humanos.

O resultado é um ambiente de intimidação que restringe a participação cívica e política feminina — e, por consequência, empobrece a democracia.

O diagnóstico da ONU também evidencia como as desigualdades se somam e agravam. Mulheres negras, LGBTQIA+, indígenas, com deficiência ou que enfrentam múltiplas camadas de discriminação estão entre as principais vítimas de perseguição e abusos digitais.

Esses grupos sofrem ataques mais violentos, personalistas e contínuos, muitas vezes articulados por comunidades online que exploram algoritmos de recomendação para amplificar discursos de ódio.

Leia Mais

A ausência de legislação protetiva em grande parte do mundo aprofunda o problema. Apenas quatro entre cada 10 países possuem normas que reconhecem assédio e perseguição digital como crimes, deixando 1,8 bilhão de mulheres e meninas sem nenhuma proteção legal.

Em paralelo, plataformas digitais seguem operando com regras opacas, ausência de fiscalização e mecanismos ineficientes de denúncia — um cenário que favorece impunidade e normalização do abuso.

Os impactos sobre as vítimas ultrapassam o sofrimento imediato. Muitas relatam depressão, ansiedade, perda de emprego, abandono de estudos e retração da vida pública.

Para várias mulheres, a única saída possível é reduzir sua presença digital — um paradoxo num mundo em que inclusão tecnológica é apresentada como ferramenta de emancipação. A violência, portanto, opera não apenas como agressão individual, mas como mecanismo social de silenciamento.

A campanha internacional 16 Dias de Ativismo, que ocorre entre 25 de novembro e 10 de dezembro, convoca governos e empresas de tecnologia a adotar compromissos mensuráveis. Entre as prioridades, estão aprovar legislações eficazes, reforçar a segurança das plataformas, remover conteúdos abusivos com agilidade e financiar redes de apoio a sobreviventes.

continua depois da publicidade

Também se exige investimento em educação digital e políticas de prevenção — uma abordagem que distribui responsabilidade entre Estado, mercado e comunidade.

O rol de práticas destacadas inclui cyberbullying, perseguição digital, deepfakes, grooming, catfishing, doxxing e exploração sexual online, fenômenos que se retroalimentam num ecossistema onde o ódio costuma gerar engajamento e, portanto, lucro.

Para a ONU, enfrentar esse ciclo requer reequilibrar forças: reduzir assimetrias entre grandes plataformas e usuários, fortalecer regulações e ampliar participação social no debate sobre segurança digital.

Sem ação coordenada e compromisso político, a violência digital continuará moldando as experiências de mulheres e meninas no mundo inteiro.

O lema global “Não tem desculpa” traduz a urgência de romper com a naturalização do abuso online. A ONU insiste que garantir a segurança digital feminina não é uma agenda acessória, mas um pilar para qualquer projeto de igualdade e democracia sustentável.

Redação IA Dinheiro

Redação IA Dinheiro

A Redação IA Dinheiro produz reportagens e conteúdos com foco em democracia, desigualdade e políticas públicas.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Ainda não há comentários nesta matéria.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima