Dieta vegana

Nova York (Estados Unidos) — Uma modelagem publicada na revista científica Frontiers in Nutrition simulou quatro padrões alimentares de 2.000 kcal e concluiu que um menu exclusivamente vegano pode reduzir em 46% as emissões diárias de gases de efeito estufa quando comparado a uma dieta mediterrânea padrão. O estudo também estimou redução de 33% no uso de terra agrícola e cerca de 7% na demanda hídrica, números que reforçam a crescente atenção da comunidade científica à relação entre sistemas alimentares, emissões e uso de recursos naturais.

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A pesquisa comparou quatro modelos: dieta mediterrânea, pesco-vegetariana, ovo-lacto-vegetariana e vegana. Para cada padrão, foi criada uma sequência de menus de sete dias com equivalência calórica e análise nutricional detalhada.

Os pesquisadores utilizaram a base AGRIBALYSE 3.1.1, uma das mais consolidadas para avaliação de ciclo de vida de alimentos, permitindo estimar emissões, ocupação de terra e uso de água de forma padronizada. O desenho do estudo não envolveu voluntários, mas segue metodologia largamente utilizada em pesquisas ambientais e nutricionais.

Os quatro menus atenderam às recomendações básicas de macronutrientes, mas todos apresentaram insuficiência de vitamina D e iodo, indicando que essas lacunas não são exclusivas de dietas veganas.

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A deficiência de vitamina B12 apareceu apenas no modelo vegano, enquanto a ingestão de EPA e DHA ficou abaixo da referência em todos os padrões, inclusive nas dietas que incluem peixe.

Esses resultados sugerem que a qualidade nutricional depende de planejamento independente do tipo de dieta adotada, e reforçam a importância de estratégias de fortificação ou suplementação quando necessário.

A diferença ambiental entre os modelos chama atenção para a forma como a cadeia de produção responde a diferentes padrões alimentares. A menor pegada de carbono das dietas baseadas em plantas está relacionada ao fato de que sistemas pecuários concentram emissões de metano, exigem maior quantidade de terra e dependem de cadeias de ração de larga escala.

Ao substituir esses produtos por leguminosas, grãos e vegetais, o modelo reduz etapas intermediárias e, consequentemente, diminui pressão sobre áreas agrícolas e emissões associadas.

Dieta vegana

Os achados do estudo têm implicações que ultrapassam a escolha individual. Em países com forte produção agropecuária, debates sobre padrões alimentares envolvem questões de uso do solo, segurança alimentar, produtividade agrícola e estratégias de mitigação climática.

A modelagem mostra que mudanças no perfil da demanda podem alterar de forma significativa os fluxos de emissão dentro do setor de alimentos, especialmente quando combinadas com políticas públicas orientadas para nutrição e sustentabilidade.

A diferença relativamente pequena no uso de água — cerca de 7% — destaca que esse indicador depende fortemente das culturas analisadas e do contexto regional.

Em algumas regiões, cultivos vegetais podem exigir irrigação intensa; em outras, a pecuária representa parcela substancial do consumo hídrico. Mesmo assim, a redução observada no modelo indica que dietas vegetais tendem a reduzir pressões hídricas em sistemas agrícolas convencionais.

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Embora baseado em modelagem, o estudo integra uma literatura crescente que avalia impactos ambientais de padrões alimentares e fornece dados úteis para formulação de políticas públicas.

Os autores não argumentam que dietas veganas sejam universalmente superiores, mas mostram que escolhas alimentares têm efeitos mensuráveis na pegada ambiental e podem contribuir para estratégias nacionais de mitigação caso sejam acompanhadas de políticas de acesso, educação alimentar e incentivos adequados.

Em um cenário de aquecimento global e pressão crescente sobre sistemas produtivos, resultados como esses ajudam a embasar discussões públicas sobre o futuro da alimentação.

A transição para modelos mais eficientes do ponto de vista ambiental depende tanto de decisões coletivas quanto de mudanças estruturais nos sistemas agrícolas. O estudo não oferece respostas definitivas, mas traz evidências que fortalecem o debate sobre como alinhar produção de alimentos, saúde e sustentabilidade num contexto global cada vez mais desafiador.

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