Parada do Orgulho LGBTI+
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro (RJ) — A 30ª Parada do Orgulho LGBTI+ será realizada neste domingo (23) em Copacabana, reunindo milhares de pessoas a partir das 11h e mobilizando uma operação pública de saúde, segurança e trânsito que marca três décadas de transformação do evento, de ato de resistência a espaço consolidado de cidadania urbana.

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A concentração ocorrerá no Posto 5, com início dos trios às 14h, em uma estrutura organizada pela Prefeitura que envolve mais de 800 agentes, bloqueios na Avenida Atlântica, monitoramento por drones, pontos de vacinação, distribuição de PrEP e reforço na limpeza de toda a orla.

A expectativa é de grande público, como tem sido comum nas últimas edições, que transformam a Zona Sul em palco de visibilidade e celebração da diversidade. A Avenida Atlântica será interditada desde cedo, com desvios pela Barata Ribeiro, no sentido Ipanema, e pela Nossa Senhora de Copacabana, no sentido Botafogo, em um esquema parecido com o de grandes eventos da cidade.

A Secretaria Municipal de Saúde instalará uma tenda entre as ruas Djalma Ulrich e Almirante Gonçalves oferecendo atualização vacinal, orientações preventivas, distribuição de preservativos e prescrição de PrEP pelo programa VanBora.

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A presença do personagem Zé Gotinha reforça o caráter educativo da ação. Na limpeza urbana, 290 garis atuarão antes, durante e após o evento, com 700 contêineres distribuídos ao longo do percurso.

A programação cultural terá shows de Daniela Mercury, Aretuza Lovi, Romero Ferro, Traemme e outros artistas, compondo uma edição que equilibra celebração, ativismo e estrutura pública.

Essa robustez operacional aponta para um movimento que vai além da festa. Trinta anos depois de sua primeira edição, a Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio se tornou exemplo de como o espaço público pode se converter em instrumento de inclusão quando o Estado assume papel ativo na garantia de direitos.

O que começou nos anos 1990 sob desconfiança institucional, repressão policial e pouca visibilidade passou a ser um dos eventos mais articulados da cidade, envolvendo saúde, mobilidade, segurança, limpeza e cultura em uma única engrenagem que reconhece corpos LGBTQIA+ como parte legítima da vida urbana.

Parada do Orgulho LGBTI+
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A operação deste ano mostra como a Parada se converteu em política pública concreta — não apenas tolerada, mas planejada e integrada pelo poder municipal.

Esse movimento não se explica apenas pelo crescimento da festa, mas pela consolidação de uma compreensão mais ampla de cidadania, na qual grupos historicamente vulnerabilizados passam a acessar serviços essenciais em eventos que ultrapassam a lógica do entretenimento.

A oferta de vacinação e PrEP, por exemplo, exemplifica como políticas de saúde passam a dialogar com realidades específicas, reconhecendo a Parada como oportunidade estratégica de cuidado coletivo.

Mas o aniversário de 30 anos também evidência contradições. A proteção institucional garantida durante o evento não corresponde à proteção cotidiana vivida pela população LGBTQIA+ no país.

A violência, a discriminação no trabalho, a vulnerabilidade de pessoas trans e a ausência de políticas contínuas de diversidade revelam um fosso entre o que se constrói no domingo e o que falta de segunda a sábado.

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A Parada oferece uma amostra de futuro possível — uma cidade que acolhe, protege e reconhece —, mas essa experiência ainda é episódica, limitada ao território simbólico de Copacabana e ao esforço concentrado de um dia de festa.

Ao mesmo tempo, a própria escala da operação pública indica que, quando o Estado decide agir, é capaz de reorganizar a cidade para garantir segurança, mobilidade, saúde e pertencimento.

Essa constatação suscita uma leitura óbvia, mas incômoda: a desigualdade enfrentada pela população LGBTQIA+ não decorre de incapacidade institucional, mas de prioridades políticas. A Parada demonstra que a infraestrutura da democracia existe — o que falta é sua universalização.

Três décadas após o primeiro desfile, o evento continua cumprindo uma dupla função. É celebração de identidades e afetos que insistem em existir, e é denúncia de uma cidadania ainda incompleta. A cada ano, Copacabana se torna laboratório de uma cidade que poderia ser permanente.

Resta ver se os próximos 30 anos transformarão essa experiência temporária em prática pública duradoura, capaz de proteger, de fato, quem vive longe da orla e enfrenta diariamente o peso da desigualdade e da violência.

IA Dinheiro

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A Redação IA Dinheiro produz reportagens e conteúdos com foco em democracia, desigualdade e políticas públicas.

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