São Paulo (SP) — O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) antecipou para as 10h desta quarta-feira (19) a divulgação do gabarito do segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025, após anular três questões por suspeita de vazamento prévio na internet. A autarquia havia planejado divulgar o documento apenas na quinta-feira (20), mas acelerou o cronograma diante da ocorrência, que também foi encaminhada à Polícia Federal para investigação.
A decisão foi anunciada depois que relatos de circulação de perguntas semelhantes às aplicadas na prova começaram a ganhar força em redes sociais e fóruns estudantis. Ao identificar o material suspeito, a comissão técnica responsável pela montagem das provas analisou as circunstâncias e decidiu pela anulação dos itens. Em nota, o Inep afirmou que a medida buscou preservar a isonomia entre os candidatos e reforçar a transparência do processo.
O episódio reacende discussões sobre segurança nas avaliações de larga escala e sobre os desafios logísticos de um exame que envolve milhões de estudantes em todo o país.
O vazamento de questões — ainda sob apuração — expõe fragilidades de um sistema historicamente pressionado por disputas políticas, cortes orçamentários e sucessivas mudanças de gestão, o que frequentemente compromete a capacidade do Estado de assegurar estabilidade institucional a políticas educacionais estratégicas.
Apesar da divulgação antecipada do gabarito, as notas oficiais só serão conhecidas em janeiro de 2025. O desempenho dos candidatos depende não apenas do número de acertos, mas da Teoria de Resposta ao Item (TRI), metodologia que avalia a coerência do padrão de respostas. Um candidato que acerta muitas questões difíceis e erra várias fáceis, por exemplo, recebe nota mais baixa, pois o sistema detecta incoerência estatística e evita distorções.
A divulgação do gabarito costuma gerar grande expectativa, mas não reflete automaticamente as notas finais. No Enem, a pontuação é distribuída por áreas — linguagens, ciências humanas, ciências da natureza, matemática e redação —, e a média final é a soma desses valores dividida por cinco.
Essa estrutura permite que candidatos com perfis distintos tenham desempenhos equilibrados, reduzindo desigualdades entre áreas e ampliando as possibilidades de ingresso no ensino superior.
No primeiro dia, além das provas objetivas, os participantes tiveram de produzir uma redação no formato dissertativo-argumentativo, que será corrigida a partir de cinco competências, cada uma valendo até 200 pontos.

A nota pode chegar a 1.000 por avaliador, e a redação continua sendo um dos elementos mais determinantes na classificação geral, especialmente para cursos muito concorridos.
Vale destacar que as notas do Enem continuam sendo o principal passaporte para o ensino superior brasileiro. Com a unificação de informações no Portal Único de Acesso ao Ensino Superior, os estudantes podem usar o desempenho no exame para ingressar em universidades públicas pelo Sisu ou solicitar bolsas em instituições privadas por meio do Prouni.
Cada programa possui edital próprio e regras específicas, o que exige atenção dos candidatos para não perder prazos ou oportunidades.
A partir deste ano, o Sisu passou a aceitar notas das três últimas edições do Enem, ampliando o leque para estudantes que vêm tentando ingresso desde 2023. Já o Prouni utiliza as duas edições mais recentes e exige média mínima de 450 pontos, além de nota não zerada na redação.
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Os critérios de renda também continuam em vigor, garantindo foco em estudantes de baixa renda — um dos pilares das políticas de democratização do acesso ao ensino superior no país.
Outra alternativa é o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que cobre parcialmente o valor das mensalidades em instituições privadas. O programa atende candidatos que tenham feito o Enem desde 2010, com média mínima de 450 pontos e redação acima de zero. O limite de renda familiar per capita é de até três salários mínimos.
Além do uso interno, as notas do Enem também são aceitas por universidades estrangeiras, principalmente em Portugal, onde convênios permitem que brasileiros sejam aprovados diretamente com base na pontuação do exame.
A antecipação do gabarito, apesar da motivação indesejada, reflete a necessidade de respostas rápidas do poder público para preservar a credibilidade do exame e garantir que estudantes não sejam prejudicados por falhas operacionais ou tentativas de fraude.
Em um país onde o acesso ao ensino superior permanece profundamente desigual, a integridade do Enem segue sendo parte essencial de uma política educacional que busca combinar justiça social, expansão de vagas e oportunidades reais para jovens de todas as regiões.







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