Plano dos EUA para Gaza

Nova York (EUA) — O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta segunda-feira (17) uma resolução apoiada pelos Estados Unidos que endossa o plano de Donald Trump para Gaza e autoriza o envio de uma força internacional ao território palestino, hoje arrasado por dois anos de ofensivas israelenses. O texto, que recebeu 13 votos a favor e abstenções de Rússia e China, é visto como um passo decisivo para formalizar uma governança tutelada por Washington, num momento em que a população local segue sem voz em negociações que definem seu futuro imediato.

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O plano permite que países-membros participem de um Conselho de Paz com mandato até 2027 para supervisionar a reconstrução econômica e a desmilitarização do território.

A estrutura, celebrada pelos EUA como vitória diplomática, reforça o controle externo sobre Gaza após sucessivas ações de Israel que destruíram moradias, hospitais e escolas, e deixaram centenas de milhares de pessoas deslocadas.

A Autoridade Palestina declarou apoio ao texto na semana passada, sob risco de ser marginalizada por parceiros árabes e por potências ocidentais. Ainda assim, o documento não garante qualquer protagonismo institucional aos palestinos na administração de Gaza, alimentando críticas de que o território permanecerá sob tutela internacional e militarização, apenas com atores diferentes dos que o oprimem hoje.

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A aprovação acontece após os EUA barraram repetidas tentativas de cessar-fogo no Conselho de Segurança — vetos que prolongaram bombardeios israelenses e asfixiaram a população civil. Agora, Washington tenta se colocar como mediador indispensável, mesmo após ter sustentado politicamente o governo de extrema direita de Binyamin Netanyahu em seus ataques à população de Gaza.

Israel reage com hostilidade a um dos pontos centrais da resolução: a menção à criação de um Estado palestino no futuro. Netanyahu, sob pressão de ministros ultranacionalistas, já descartou qualquer avanço nesse sentido e vem defendendo abertamente a continuidade da ocupação e da desmilitarização forçada.

O premiê tem, inclusive, flertado com a perseguição à liderança palestina: aliados do governo chegaram a pedir a prisão do presidente Mahmoud Abbas se a ONU reconhecer a soberania palestina.

O Hamas rejeitou a resolução, afirmando que ela não garante direitos ao povo palestino e busca impor controle estrangeiro sobre Gaza, agora sob nova bandeira. O grupo denuncia que uma força internacional pode assumir funções de repressão para manter os interesses de Israel e dos EUA, e não a segurança da população.

Plano dos EUA para Gaza

A operação militar israelense que deu origem ao cessar-fogo deixou mais de 40 mil mortos, segundo autoridades locais, e reduziu grande parte da Faixa de Gaza a escombros. A crise humanitária segue extrema: famílias vivem em abrigos improvisados, com acesso limitado a água, alimentos e eletricidade.

Em vez de responsabilizar o país agressor, a comunidade internacional opta por uma fórmula que contorna o debate sobre crimes de guerra e sobre o bloqueio que afoga a economia do território há quase duas décadas.

Sob o discurso da reconstrução, o plano norte-americano tenta redefinir Gaza sem abrir espaço para que os palestinos decidam o próprio futuro.

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O risco é transformar a estabilização militar em substituta da solução política. A história da região mostra que cada arranjo que reduz o povo palestino a espectador da própria vida só prolonga a instabilidade e alimenta novos ciclos de violência.

A ONU agora assume papel central: pode romper com a lógica de ocupação e dependência externa — ou apenas administrá-la com rosto diferente. As escolhas dos próximos meses dirão se a reconstrução será caminho para autonomia ou instrumento para sufocar qualquer voz que questione o poder de Israel e dos EUA na região.

Sem justiça, não haverá paz duradoura. E justiça começa com devolver aos palestinos o que lhes foi tirado: a capacidade de decidir seu destino, sua terra e suas vidas.

Redação IA Dinheiro

Redação IA Dinheiro

Equipe editorial dedicada a explicar decisões do Estado, traduzir políticas públicas e orientar cidadãos sobre como acessar seus direitos e benefícios sociais.

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