Belém (PA) — Ministros e negociadores iniciaram nesta segunda-feira (17) o segmento de alto nível da COP30 para tentar destravar acordos sobre financiamento climático, transição energética e adaptação, ainda sem consenso na conferência da ONU em Belém. A presidência do evento pediu que as decisões saiam sem atrasos, enquanto movimentos sociais pressionam por justiça climática nos espaços paralelos.
O secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, Simon Stiell, afirmou que as delegações precisam enfrentar imediatamente os pontos mais sensíveis da pauta, evitando que as tratativas se arrastem para as últimas horas da conferência. Ele destacou que os impactos extremos da crise climática exigem cooperação em um cenário internacional marcado por disputas geopolíticas.
A presidente da Assembleia Geral da ONU, Annalena Baerbock, disse que setores como energias renováveis e inovações sustentáveis já demonstram crescimento irreversível, mas os investimentos ainda precisam ser reorientados. Ela citou o pagamento de cerca de US$ 1,4 trilhão em juros da dívida por países em desenvolvimento no último ano como exemplo de desigualdade que limita ações ambientais urgentes.
O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, defendeu que a COP30 marque a transição do debate para a implementação de medidas concretas. Entre as iniciativas reforçadas pelo governo está o “Compromisso de Belém”, que busca quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, com adesão de 25 países até agora. Alckmin afirmou que o Brasil aposta na bioeconomia e na descarbonização como motores de crescimento com inclusão.
Negociadores brasileiros informaram que dois pacotes de decisões estão sendo elaborados: um com temas previstos no Acordo de Paris e outro com assuntos adicionais propostos pelas delegações. O rascunho do primeiro bloco, sob responsabilidade do Brasil, deve ser avaliado na metade da semana. A presidência da COP30 prevê reuniões estendidas à noite para cumprir o cronograma.
Do lado de fora do local oficial da conferência, a mobilização popular ganhou força. A Cúpula dos Povos reuniu mais de 25 mil participantes entre 12 e 16 de novembro e entregou uma declaração com propostas à presidência da COP. Entre as demandas estão ampliação do debate sobre transição justa, proteção de territórios indígenas e garantia de direitos trabalhistas e alimentares nas políticas climáticas.
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A marcha realizada pelas organizações sociais no sábado reuniu mais de 70 mil pessoas em Belém, segundo os organizadores, tornando-se um dos maiores atos globais por justiça climática. Durante o encontro, uma força-tarefa montada por movimentos como MST e MTST preparou gratuitamente mais de 300 mil refeições, com uso de ingredientes da agricultura familiar e da culinária amazônica.
Lideranças da Cúpula afirmam que o recado enviado à conferência é de que a transição ecológica deve priorizar quem já enfrenta os impactos mais severos da mudança do clima — indígenas, populações periféricas e trabalhadores rurais.











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