Brasília (DF) — A atividade econômica brasileira recuou 0,2% em setembro, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC‑Br) divulgado nesta segunda-feira (17). Esse resultado evidencia que a política de juros elevados, com a taxa Selic em 15% ao ano, está exercendo forte efeito de freio sobre crédito, consumo e investimentos, comprometendo a expansão requerida para consolidar justiça social e crescimento inclusivo.
O recuo econômico demonstra que a autonomia do BC e o predomínio da política monetária sobre a agenda de desenvolvimento têm consequências reais. No terceiro trimestre (julho a setembro), a atividade caiu 0,9% em relação ao trimestre anterior. Apesar de o crescimento acumulado em 12 meses ainda estar positivo (13,5%), o cenário revela que a economia está travando no curto prazo — e que o custo social pode ser elevado se ficar sem ação.
A alta da Selic, utilizada pelo BC para conter a inflação, gera efeitos colaterais diretos no cotidiano das pessoas. Com juros mais altos, o crédito fica mais caro e reduz a capacidade de investimento de famílias e empresas, limitando contratações e a ampliação de salários. Em um país em que as desigualdades seguem como barreiras à mobilidade social, essa estratégia funciona como um bloqueio estrutural a um modelo de crescimento com inclusão e geração de oportunidades.
A política monetária restritiva, portanto, tornou-se um obstáculo às metas de desenvolvimento que dependem de mais investimento público, expansão da infraestrutura social e estímulo à economia popular. Ao manter os juros em patamar elevado, o BC tenta controlar a inflação de forma isolada, assumindo um protagonismo que desloca o papel do Estado como motor do crescimento compartilhado.
Mas inflação não se combate apenas com juros altos. Para que a economia avance com equilíbrio e inclusão, é preciso coordenação entre política monetária, crédito e políticas públicas voltadas à produção e ao trabalho. Quando esse alinhamento não ocorre, o aperto monetário acaba impondo custos maiores justamente às famílias que dependem de emprego, serviços públicos eficientes e acesso ao financiamento para consumir e investir.
Com a Selic no maior nível em quase duas décadas, a desaceleração do crédito já afeta setores que sustentam o mercado interno, limitando a geração de renda e o dinamismo da indústria e dos serviços. Nesse contexto, o Banco Central, ao atuar com foco quase exclusivo no controle de preços, deixa de considerar que desenvolvimento econômico também se constrói com crescimento sustentável, investimento produtivo e expansão das oportunidades.
Leia Mais
A queda da atividade em setembro acende um sinal de alerta: manter os juros elevados por longos períodos pode transformar um instrumento de estabilidade em uma barreira ao avanço social. O país entra em uma fase em que ajustes de rumo são necessários para impedir que a desaceleração econômica se converta em perda de empregos, renda menor e redução da capacidade de investimento público.
Em outras palavras, o Brasil precisa reorganizar suas ferramentas econômicas para que a política monetária deixe de funcionar como freio permanente e volte a operar em sintonia com medidas que estimulem a produção, ampliem o consumo das famílias e fortaleçam setores estratégicos. Sem essa calibragem, os juros altos seguirão limitando o potencial de um país que precisa crescer para incluir — e incluir para crescer.











Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Ainda não há comentários nesta matéria.