Chile

Santiago (Chile) — Em 14 de dezembro, o Chile decide se avança na agenda de proteção social construída desde 2022 sob o governo de Gabriel Boric ou se se curva a um modelo ultraliberal que redefiniu o Estado como instrumento de lucro. A disputa entre Jeannette Jara, candidata da coligação progressista, e José Antonio Kast, figura da ultradireita, coloca em jogo não apenas a presidência, mas o papel do Estado, das políticas públicas e da cidadania no Chile.

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O país vive um momento de inflexão. No primeiro turno, realizado neste domingo (16), Jeannette Jara obteve 26,8% dos votos contra 23,8% do advogado ultracatólico José Antonio Kast, confirmando a ida ao segundo turno em 14 de dezembro. A disputa acontece com o Congresso parcialmente renovado, peça crucial para a governabilidade do próximo governo em um cenário político cada vez mais polarizado.

Esse segundo turno acontece como desdobramento direto das mobilizações de 2019, quando milhões foram às ruas contra o custo de vida, o endividamento das famílias e a precarização de direitos. As manifestações escancararam o esgotamento de um modelo neoliberal que, desde a ditadura de Augusto Pinochet, deixou educação, saúde e aposentadoria nas mãos do mercado.

A partir dessa ruptura social, o Chile entrou em uma nova fase. Com a posse do presidente Gabriel Boric em março de 2022, o Estado voltou a assumir protagonismo na proteção social. Mesmo com a desigualdade ainda em patamar elevado, o governo iniciou uma agenda de reequilíbrio.

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Medidas como a reforma da previdência, aprovada em 2025, que elevou a contribuição patronal em 7 pontos percentuais (para cerca de 18,5%), representam a reconstrução gradual de direitos que haviam sido transformados em mercadorias ao longo de décadas.

Jeannette Jara propõe ampliar o salário mínimo, reduzir a jornada de trabalho, robustecer o sistema público de saúde e expandir programas de apoio à juventude e à economia popular. Em seu discurso, o desenvolvimento sustentável e justo é o centro, e o Estado aparece como motor de progresso econômico com justiça social.

Por outro lado, José Antonio Kast defende ampliação de privatizações, corte de impostos para grandes capitais, flexibilização de leis trabalhistas e endurecimento da política migratória. Sua retórica e histórico o vinculam à era da ditadura de Augusto Pinochet, quando os direitos sociais foram reduzidos à lógica do mercado.

Nesse sentido, esse retorno pode significar o aprofundamento das desigualdades e retração dos direitos conquistados ao longo dos últimos anos.

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Foto: Paulo Slachevsky

O impacto econômico e social de uma eventual eleição de Kast preocupa setores produtivos e financeiros que valorizam previsibilidade e Estado de Direito.

Um modelo de mercado exacerbado coloca em risco empregos formais, salário digno e coesão social — fatores centrais para uma economia robusta e inclusiva. Dessa forma, o pleito chileno é mais que um evento político: é um sinal sobre o rumo do desenvolvimento na região.

Na América do Sul, o Chile vive como termômetro: se consolidar o Estado social, reforça o ciclo de crescimento com inclusão; se adotar o retrocesso ultraliberal, reforça o paradigma onde o mercado prevalece sobre o cidadão. A escolha no segundo turno não é apenas entre Jara e Kast, mas entre democracia plural, direitos e justiça social ou autoritarismo econômico e concentração de poder.

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No fim das contas, o que está em jogo é definir se o Chile vai reforçar um pacto social que devolve voz e poder à maioria ou se abrirá espaço para que as elites e interesses privados redirecionem o destino coletivo.

Se Jara vencer, o país continua avançando na reconstrução de um modelo com Estado ativo, economia de oportunidades e compromisso com o bem‐comum. Se, por sua vez, Kast vencer, o país pode retroceder a uma era em que direitos básicos foram mercadorias e o mercado ditou as regras.

Portanto, o pleito chileno não se resume a quatro anos de governo. Ele definirá se o país consolidará um novo ciclo em que trabalhadores, jovens, mulheres e comunidades marginalizadas assumem protagonismo político e econômico — ou se voltará à sombra de uma lógica que silenciou esses grupos por décadas.

IA Dinheiro

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A Redação IA Dinheiro produz reportagens interpretativas e mantém cobertura contínua em Economia, Política, Sociedade, Mundo e Sustentabilidade.

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