Pé-de-Meia
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Brasília (DF) — A partir da última sexta-feira (7), estudantes beneficiários do Programa Pé-de-Meia podem escolher como investir o incentivo de R$ 1 mil concedido pela conclusão do ensino médio. A nova funcionalidade, disponível no aplicativo Caixa Tem, permite que o valor seja mantido na poupança ou aplicado no Tesouro Selic, conforme portaria conjunta dos ministérios da Educação e da Fazenda. A medida representa mais do que uma opção financeira: é um passo na formação da autonomia econômica da juventude brasileira.

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O recurso estará acessível inicialmente para quem já recebeu as parcelas relativas à conclusão do primeiro e do segundo ano do ensino médio. Para menores de idade, a migração da poupança para o Tesouro Selic exige nova autorização do responsável legal, também feita no aplicativo.

Após a confirmação da conclusão do ensino médio pelo MEC, os estudantes poderão decidir se mantêm o investimento ou se resgatam o valor. Tudo é operado digitalmente, dentro do próprio Caixa Tem.

A Caixa Econômica Federal, agente financeiro do programa, oferecerá orientações e acompanhamento da rentabilidade das aplicações, além de abrir as contas e gerenciar o pagamento dos incentivos.

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O modelo foi pensado para reduzir barreiras burocráticas e alcançar públicos que historicamente estiveram à margem do sistema financeiro — jovens de famílias de baixa renda, alunos da rede pública e estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Criado pela Lei 14.818/2024, o Pé-de-Meia é uma das políticas educacionais mais ambiciosas da última década. O programa garante incentivos financeiros a quem mantém frequência e conclui etapas do ensino médio, funcionando como uma espécie de “poupança de permanência” que reconhece o esforço do estudante e reforça a conexão entre educação e futuro.

Ao permitir que o incentivo seja aplicado no Tesouro Nacional, o governo insere uma dimensão inédita: o estudante de escola pública passa a ser também investidor do Estado.

A iniciativa reflete uma concepção de desenvolvimento que ultrapassa a lógica assistencialista. Em vez de apenas transferir renda, o programa oferece uma experiência concreta de cidadania financeira.

Pé-de-Meia
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Jovens que antes não tinham conta bancária aprendem, na prática, o funcionamento de um investimento público seguro, respaldado pela própria União. É o Estado educando para o investimento, não apenas para o consumo.

A mudança também responde a um desafio estrutural do país: o abismo da educação financeira. Dados da Pesquisa Observatório Febraban, realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), mostram que 55% dos brasileiros admitem entender pouco ou nada de educação financeira, porém, reconhecem que o tema é importante.

Ao usar o Tesouro Selic como porta de entrada, o governo insere essa geração em um circuito de aprendizado econômico, com segurança e propósito social. O gesto é simbólico — em um país desigual, o investimento estatal vira instrumento pedagógico e redistributivo.

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Em outras palavras, o Estado não se retira da cena econômica, mas atua como mediador e educador. Cada jovem que investe no Tesouro é, ao mesmo tempo, beneficiário e financiador do projeto nacional. É uma relação circular de pertencimento, que fortalece a ideia de comunidade e de pacto social.

Ao vincular educação e investimento público, o Pé-de-Meia traduz uma aposta de longo prazo: formar uma geração capaz de compreender que progresso individual e desenvolvimento coletivo caminham juntos.

A política pública deixa de ser apenas um programa de transferência e se torna uma experiência de emancipação. No fim, o que se semeia não é apenas uma poupança — é uma nova consciência de país.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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