Balança comercial

Brasília (DF) — O Brasil registrou em outubro um superávit comercial de US$ 6,964 bilhões, o segundo maior da série histórica iniciada em 1989. As exportações cresceram 9,1%, impulsionadas por soja, café e minério de ferro, enquanto as importações recuaram 0,8%. À primeira vista, os números indicam força no comércio exterior; na prática, revelam o oposto: uma economia que vende mais porque consome e investe menos.

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Com a taxa Selic mantida em 15% pelo Comitê de Política Monetária (Copom), o crédito caro tornou-se o principal freio da atividade industrial. O financiamento de capital de giro, inovação e expansão produtiva se tornou proibitivo, assim como a demanda interna encolheu.

Bens de capital e insumos importados, que costumam sinalizar investimento, caíram, o que elevou artificialmente o saldo positivo da balança. O superávit, portanto, não é fruto de competitividade, mas de estagnação.

A própria composição das exportações reforça o quadro. A agropecuária cresceu 24% e a indústria extrativa, 22%, enquanto a indústria de transformação avançou apenas 0,7%. Esses dados mostram que o país depende cada vez mais de produtos primários e menos da produção de alto valor agregado.

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O vice-presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reconheceu o impasse: “A taxa de juros está muito elevada. Esperamos que na próxima reunião do Copom ela já comece a curva de redução. Ela retrai a atividade econômica, especialmente bens duráveis de custo mais alto.”

A declaração traduz a tensão entre o governo, que tenta reaquecer a economia, e o Banco Central, que mantém a política restritiva sob o argumento de combater a inflação.

Vale destacar ainda que apesar do superávit recorde no último mês, no acumulado entre janeiro e outubro, houve uma queda de 16,6% em relação ao mesmo período do ano passado, movimento típico de uma economia em compasso de espera.

O Ministério do Desenvolvimento projeta encerrar o ano com saldo de US$ 60,9 bilhões, abaixo do desempenho de 2024 e distante do recorde de 2023.

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Por trás das estatísticas, persiste o paradoxo que marca a economia brasileira: o país equilibra as contas externas às custas de uma economia interna paralisada.

Exporta porque investe pouco, e acumula superávit porque a indústria está parada. O resultado de outubro é, assim, menos um retrato de vigor e mais um espelho do sufocamento produtivo causado pelos juros.

Enquanto o saldo da balança apresenta números superavitários, ainda que menores que 2024 e 2023, o chão de fábrica segue silencioso e a recuperação prometida pela reindustrialização custa a sair do papel.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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