COP30
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Belém (PA) — O Brasil quer fazer da COP30 um marco econômico e civilizatório. Ao defender a mobilização de US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático até 2035, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o mundo precisa criar uma “renda básica para enfrentar a emergência climática”. O plano, articulado entre as presidências da COP29 e COP30, pretende transformar a meta de 1,5°C em política de desenvolvimento global — com a Amazônia no centro das soluções.

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Marina descreveu o desafio: embora os investimentos verdes cresçam, cerca de US$ 5 trilhões anuais ainda são destinados a atividades intensivas em carbono.

“Há 30 anos se está debatendo, só que agora não tem mais o que protelar. A COP 30 tem o desafio de ser um novo marco referencial para a agenda do clima. A partir de agora é a implementação”, afirmou a ministra no programa Estúdio COP30, exibido pelo Canal Gov.

Para ela, os próximos dez anos definirão se a humanidade conseguirá limitar o aquecimento global e evitar o colapso climático.

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O “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, lançado em parceria com o Azerbaijão, estrutura o plano em cinco eixos — as chamadas 5Rs — que envolvem o reabastecimento de subsídios, o reequilíbrio fiscal, o redirecionamento do capital privado, a reestruturação da governança e a reformulação dos fluxos financeiros globais.

A meta é canalizar recursos públicos e privados para projetos de transição energética, adaptação climática, energia limpa e proteção de florestas tropicais.

Segundo Marina, o financiamento climático deve funcionar como um novo pacto internacional, capaz de reformar a arquitetura financeira global.

“Precisamos de um sistema que valorize quem preserva e invista em sustentabilidade, não quem destrói. É uma forma de corrigir uma dívida histórica e construir prosperidade para todos”, disse.

Para a ministra, o financiamento climático não é apenas uma ferramenta ambiental, mas um novo modelo econômico baseado em redistribuição e equidade.

O Brasil também levará à conferência o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que busca remunerar governos, comunidades e proprietários que mantêm áreas de floresta em pé. A proposta inicial prevê captar US$ 25 bilhões junto a países e investidores privados, com potencial de chegar a US$ 100 bilhões.

A lógica é remunerar a conservação como serviço essencial à humanidade. “As florestas são bancos de biodiversidade, de água e de estabilidade climática. São o coração da nossa segurança planetária”, afirmou Marina.

As metas brasileiras incluem zerar o desmatamento até 2030 e reduzir entre 59% e 67% as emissões líquidas até 2035, em relação a 2005. Segundo a ministra, o país possui vantagens estruturais — matriz energética limpa, biocombustíveis e histórico de controle do desmatamento — mas enfrenta novos riscos, como desertificação e eventos climáticos extremos.

“O Brasil é altamente vulnerável. Ser uma potência hídrica não nos protege das secas ou das chuvas em excesso. Precisamos acelerar a adaptação e a resiliência.”, disse.

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O discurso de Marina ecoa a visão que o governo tenta consolidar: tratar o clima não como obstáculo ao crescimento, mas como alicerce de um novo ciclo econômico. “Não se pode pensar a mudança do clima como um impedimento ao desenvolvimento, mas como uma nova forma de desenvolvimento, em que a natureza é preservada e a prosperidade é compartilhada”, afirmou.

A COP30, que será realizada em Belém, representa para o Brasil a oportunidade de reposicionar o país como mediador entre Norte e Sul globais.

O desafio, porém, será transformar as promessas em mecanismos reais de financiamento. Com juros altos, dívida crescente e resistências políticas em países ricos, a meta de US$ 1,3 trilhão anuais dependerá de inovação financeira e vontade política.

O “Mapa de Baku a Belém” quer inaugurar a era da implementação, após três décadas de negociações. “Os compromissos estão feitos, agora é hora de cumpri-los”, disse Marina Silva. O objetivo é fazer do clima não apenas uma agenda ambiental, mas um pacto global de sobrevivência — onde o desenvolvimento se mede pela capacidade de manter a vida.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista dedicado a explicar decisões do Estado, traduzir políticas públicas e orientar cidadãos sobre como acessar seus direitos e benefícios sociais.

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