Recife (PE) — O encontro entre a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e o Banco Mundial marcou mais do que a troca de diagnósticos econômicos. Representou a tentativa de reposicionar o Nordeste no centro da estratégia nacional de desenvolvimento. Com base em um estudo inédito, as instituições discutiram rotas para transformar o potencial produtivo, energético e humano da região em crescimento sustentável e geração de empregos qualificados.
O relatório Rotas para o Nordeste: proatividade, emprego e inclusão, ainda em elaboração, integra a série internacional Growth and Jobs Report e analisa motores de crescimento, produtividade e integração regional. É o segundo volume da série dedicado ao Brasil, após o estudo sobre a Amazônia publicado em 2023.
A proposta é identificar gargalos e oportunidades em áreas como infraestrutura, inovação e capital humano, apontando caminhos para uma economia regional mais dinâmica.
Segundo Shireen Mahdi, gerente de Prosperidade do Banco Mundial, a elaboração do relatório é um processo de escuta e cooperação.
“Queremos ouvir e dialogar com atores regionais para aperfeiçoar este estudo a partir de uma escuta qualificada. Renovar o debate nos apresenta novas perspectivas, sobretudo para o cenário da reforma tributária”, afirmou.
A delegação do Banco Mundial foi recebida pelo superintendente da Sudene, Francisco Alexandre, que destacou a importância de alinhar políticas de crédito, inovação e formação profissional a um projeto regional de longo prazo.
“A região forma mão de obra qualificada, mas ainda enfrenta dificuldade para converter esse capital humano em empregos produtivos. Precisamos equilibrar investimentos em novas economias e na base tradicional, garantindo geração real de trabalho e renda”, disse.
O relatório identifica o que o Banco Mundial chama de “paradoxo nordestino”: uma região com energia abundante, universidades consolidadas e jovens qualificados, mas com baixa produtividade e inserção industrial limitada.

A economista Karen Muramatsu observou que o Nordeste reúne as condições para se reinventar, citando a liderança em energia eólica e solar e a posição geográfica estratégica, conectada por cabos submarinos de dados que ligam o Brasil a outros continentes.
O estudo aponta, no entanto, que a subutilização do capital humano e os entraves regulatórios ainda limitam o dinamismo regional. Para o economista Cornelius Fleischhaker, a produtividade das empresas nordestinas segue abaixo da média nacional, e o ritmo de criação de novos empreendimentos tem diminuído — o que reforça, segundo ele, a necessidade de políticas que reduzam custos de operação, estimulem a inovação e aproveitem vantagens regionais como o polo de energias renováveis.
A economista Tânia Bacelar, especialista em políticas regionais, destacou que o momento atual combina duas oportunidades inéditas: a reforma tributária e a transição para uma economia verde.
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“Existem agora dois investimentos importantíssimos — a infraestrutura econômica e a rediscussão sobre o papel do semiárido motivada pela agenda da economia verde”, disse.
A nova agenda discutida entre Sudene e Banco Mundial parte do princípio de que o desenvolvimento regional precisa ir além da compensação fiscal.
Envolve integrar cadeias produtivas, reduzir desigualdades territoriais e inserir o Nordeste nas novas rotas da economia verde. Para os especialistas, a região pode ser o laboratório do país para um modelo de crescimento que una produtividade e inclusão.
A Sudene propôs a continuidade do diálogo com o Banco Mundial e a realização de rodadas técnicas permanentes com universidades, governos estaduais e o setor produtivo. O objetivo é transformar as recomendações do estudo em projetos concretos e duradouros.
Mais do que um plano econômico, a iniciativa recoloca o Nordeste como símbolo de uma ambição nacional: provar que desenvolvimento sustentável e redução de desigualdades não são agendas distintas, mas partes da mesma estratégia.










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