Cooperativas de crédito

Brasília — Mesmo sob regulação mais rigorosa, as cooperativas de crédito seguem crescendo acima dos bancos e se tornando um dos principais motores de inclusão financeira no país. O tema foi debatido nesta quinta-feira (23) durante a 46ª edição da LiveBC, promovida pelo Banco Central, que celebrou o Ano Internacional das Cooperativas e os 20 anos de criação do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias (Desuc).

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Segundo dados divulgados pela autarquia, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) registrou em 2024 um avanço de 21% em ativos totais, quase o dobro do crescimento do sistema financeiro convencional, que ficou em 13%.

O chefe do Desuc, Adalberto Felinto da Cruz Junior, e o chefe-adjunto, Ivens Arua Neves de Miranda, explicaram que a expansão é impulsionada pela presença das cooperativas em locais onde os bancos tradicionais reduziram ou encerraram suas atividades.

“Enquanto o sistema financeiro tradicional reduz seus postos de atendimento, o sistema de cooperativas apresenta contrafluxo”, afirmou Felinto durante a transmissão, destacando que cerca de 500 municípios brasileiros contam apenas com cooperativas como instituições financeiras.

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Para o Banco Central, o avanço do cooperativismo é um caso de sucesso da Agenda BC#, que combina inclusão, competitividade e sustentabilidade.

O fenômeno, porém, tem implicações mais amplas que a simples oferta de crédito. A expansão das cooperativas representa uma reconfiguração silenciosa do sistema financeiro brasileiro, que há décadas se concentra em grandes bancos privados.

Com uma lógica baseada em governança democrática e retorno local dos resultados, as cooperativas vêm assumindo papel anticíclico: ampliam o crédito em momentos de retração e mantêm o dinheiro circulando nas comunidades.

Os números reforçam esse papel. O setor já conta com mais de 20 milhões de cooperados e 10 mil postos de atendimento espalhados pelo país.

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Em muitos municípios, as cooperativas financiam escolas, hospitais e pequenos empreendimentos — funções que, em outros contextos, caberiam ao poder público.

“O cooperado não é cliente, ele é dono”, afirmou Felinto, explicando que a proximidade com a comunidade é a razão da resiliência do modelo.

Estudos citados pelos representantes do BC indicam que municípios com atuação cooperativa são mais ricos e têm menor taxa de pobreza.

O modelo redistribui renda e incentiva o desenvolvimento endógeno, mantendo o excedente dentro da própria localidade. Esse ciclo virtuoso contrasta com a lógica de concentração financeira, em que recursos captados em pequenas cidades acabam sendo drenados para centros urbanos e aplicações de curto prazo.

O Banco Central também destacou que, apesar do crescimento acelerado, o setor é fortemente supervisionado e cumpre os mesmos requisitos prudenciais dos bancos, incluindo índices de liquidez e capitalização baseados em Basileia.

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Além disso, conta com a proteção do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que assegura depósitos de até R$ 250 mil por cooperado.

O principal desafio, segundo Felinto e Miranda, é conciliar a base local com a digitalização. À medida que o sistema financeiro avança para o ambiente virtual, as cooperativas precisam adaptar-se sem perder o senso de pertencimento que as diferencia.

O Banco Central defende um modelo híbrido — que combine presença física em comunidades remotas e ferramentas digitais acessíveis —, acompanhado por educação financeira para evitar o superendividamento e promover o uso consciente do crédito.

A expansão do cooperativismo de crédito confirma uma tendência estrutural: o fortalecimento de modelos financeiros que conciliam eficiência com função social.

Em um país marcado pela desigualdade e pela concentração bancária, as cooperativas se consolidam como exemplo de finanças desenvolvimentistas — instituições que não apenas concedem crédito, mas redistribuem poder econômico e fortalecem a economia regional.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e sociedade, dedica-se a investigar como decisões econômicas, políticas e sociais se entrelaçam na construção de um Estado de bem-estar social no Brasil.

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