São Paulo — A holandesa Prosus, uma das maiores companhias de investimento em tecnologia do mundo, anunciou nesta quinta-feira (23) que passará a oferecer no Brasil recibos de ações (BDRs) de empresas internacionais de tecnologia. A iniciativa permitirá que investidores locais negociem papéis de companhias como Tencent, Delivery Hero e PayU, todas integrantes do portfólio global do grupo.
De acordo com informações publicadas pela Reuters, o lançamento dos BDRs é resultado de uma parceria com o Itaú BBA e marca a ampliação da presença da Prosus na América Latina.
O movimento aproxima a poupança doméstica brasileira da economia digital global e reforça o papel do país como um dos principais destinos emergentes de fluxos de capital ligados à inovação tecnológica.
O anúncio ocorre em um momento de retomada parcial do mercado acionário brasileiro, após meses de volatilidade internacional e cautela nos fluxos de capitais.
A operação sinaliza confiança no ambiente regulatório local e diversificação da oferta de ativos, num cenário em que investidores buscam exposição a setores de tecnologia que ainda são escassos na B3.
Mas o alcance do movimento vai além do mercado financeiro. A abertura dos BDRs de tecnologia representa um passo simbólico da integração do Brasil à economia digital global — e, ao mesmo tempo, expõe a distância entre a sofisticação financeira e a base produtiva nacional.
Em países emergentes, a expansão de instrumentos de investimento costuma ocorrer mais rápido do que a consolidação de uma política industrial capaz de transformar capital em inovação doméstica.
A financeirização da inovação cria um paradoxo recorrente: o investidor local se aproxima de empresas estrangeiras inovadoras, enquanto a indústria interna permanece dependente de importação tecnológica e de financiamento externo.
A ausência de coordenação entre mercado de capitais e política de desenvolvimento faz com que o país participe da nova economia digital como espectador e não como protagonista.
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Para o governo, iniciativas de “reindustrialização verde” e fortalecimento da economia digital buscam reduzir essa distância. No entanto, o descompasso entre o avanço financeiro e a capacidade produtiva continua evidente.
A emissão de BDRs pela Prosus é um reflexo da integração financeira do país — mas também um lembrete de que a autonomia tecnológica não se constrói apenas com acesso a ativos globais. Ela exige investimento público, inovação local e um Estado capaz de orientar o capital para o desenvolvimento.
A operação posiciona o Brasil no mapa dos mercados emergentes mais abertos ao capital internacional, mas reacende um debate essencial: como converter liquidez em produtividade.
A nova fronteira do capital produtivo não está apenas na bolsa, mas na capacidade de transformar o fluxo financeiro em valor econômico real — um desafio que define o futuro da industrialização brasileira na era digital.

            
            
            
            








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