Lima — O primeiro-ministro do Peru, Ernesto Álvarez, solicitou nesta quarta-feira (22) ao Congresso poderes legislativos por 90 dias para aprovar leis emergenciais voltadas ao combate à criminalidade. A proposta ocorre uma semana após o presidente José Jeri assumir o cargo e decretar estado de emergência em Lima e Callao por 30 dias, em resposta à escalada da violência urbana. O governo recebeu voto de confiança de 79 parlamentares, o que garante apoio inicial para a medida.
Segundo Álvarez, o objetivo é “recuperar a autoridade do Estado e restaurar a ordem nas ruas”. A promessa de restabelecer segurança pública, porém, vai além de um problema policial: simboliza o esforço de um país fragmentado por crises políticas sucessivas, com sete presidentes desde 2018, e uma economia que cresce sem reduzir desigualdades.
O pedido de poderes legislativos é interpretado como um movimento de centralização institucional em meio à instabilidade crônica. Desde a queda de Dina Boluarte, o país vive um vácuo de legitimidade política que tem corroído a capacidade estatal de implementar políticas públicas de longo prazo.
Para o novo governo, endurecer o controle sobre prisões e congelar contas bancárias ligadas a organizações criminosas são medidas necessárias para conter o avanço de gangues que atuam dentro e fora do sistema penitenciário.
A retórica de “segurança como prioridade de Estado” aparece em um momento de tensão social ampliada pelo aumento do custo de vida e pela desaceleração econômica.
O Peru ainda é uma das economias mais abertas da América do Sul e depende fortemente das exportações de cobre, ouro e gás. O governo projeta crescimento de 3,2% até 2026, mas enfrenta o desafio de conciliar disciplina fiscal e políticas de contenção da violência em um ambiente de baixa confiança política.
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O debate sobre segurança revela a fragilidade das instituições democráticas diante de demandas imediatas por estabilidade. Em países marcados por desigualdade e informalidade, a criminalidade acaba se tornando o pretexto para políticas de exceção. A América Latina, de modo geral, repete esse dilema — fortalecer o Estado sem enfraquecer a democracia.
Para o Peru, que se prepara para eleições gerais em abril de 2026, o desafio é evitar que a busca por autoridade se converta em autoritarismo.
A promessa de segurança precisa conviver com reformas sociais e econômicas que devolvam legitimidade a um sistema político esgotado. A crise peruana, antes restrita à arena institucional, agora expõe o ponto de fratura entre Estado, economia e cidadania.










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