Petrobras
Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Brasília — A Petrobras deu um passo inédito na sua estratégia comercial ao firmar, nesta quinta-feira (16), um contrato direto com o governo da Índia para o fornecimento de até seis milhões de barris de petróleo por ano, a partir de 2025. O anúncio foi feito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que lidera missão oficial em Nova Déli com foco em ampliar as relações comerciais entre os dois países.

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O acordo, segundo o governo brasileiro, integra uma nova etapa da política de internacionalização da Petrobras, que vem priorizando negociações bilaterais com governos e estatais estrangeiras, reduzindo a dependência de intermediários e traders internacionais. Na prática, o modelo garante previsibilidade de preços e fortalece o uso do petróleo como instrumento de diplomacia econômica.

“É um passo importante para consolidar o Brasil como fornecedor confiável de energia no cenário global”, afirmou Alckmin.

O vice-presidente também confirmou o lançamento, em 2026, de 18 novos blocos offshore nas bacias de Santos e Campos, o maior volume já colocado em oferta pela companhia em um único ciclo.

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A Índia, terceiro maior importador de petróleo do mundo, depende de compras externas para cerca de 85% de sua demanda. A parceria com o Brasil surge como alternativa em meio à pressão dos Estados Unidos, que aplicaram tarifas de até 50% sobre o país por manter importações de petróleo russo.

O contrato com a Petrobras amplia o leque de fornecedores indianos e reforça o pragmatismo da política energética de Nova Déli.

De acordo com a estatal, a Índia respondeu por 4% das exportações de petróleo brasileiro em 2024. A expectativa é que o novo acordo eleve essa participação e abra espaço para futuros contratos de longo prazo.

Fontes do setor energético avaliam que o Brasil tenta ocupar um vácuo deixado pela Rússia e consolidar-se como um fornecedor estratégico para o mercado asiático.

Durante a missão, Brasil e Índia também avançaram nas tratativas para expandir o Acordo de Comércio Preferencial Mercosul–Índia, atualmente restrito a cerca de 450 categorias de produtos com reduções tarifárias de 10% a 20%. O objetivo é elevar o comércio bilateral para US$ 15 bilhões em 2025 e US$ 20 bilhões até 2026.

Para a diretora de negócios da ApexBrasil, Ana Repezza, a revisão do tratado é prioridade diante das tensões internacionais. “A ampliação tornou-se prioridade estratégica, especialmente após as tensões com os Estados Unidos”, disse.

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O Itamaraty estuda, ainda, mecanismos para simplificar vistos de negócios e facilitar o trânsito de empresários entre os dois países.

A comitiva brasileira reúne representantes de 20 setores — do agronegócio à tecnologia e saúde — e deve ganhar reforço com a chegada do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, nesta sexta-feira (17), para aprofundar as negociações na área farmacêutica e de vacinas.

Com o contrato com a Índia, o Brasil reforça a tendência de diversificar suas exportações de energia, hoje concentradas em mais de 60% para a China. A operação, vista no governo como sinal de maturidade diplomática, insere o país no centro do tabuleiro energético do Sul Global e consolida a Petrobras como agente de política externa.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e política internacional, dedicado a interpretar como o poder e os mercados influenciam o Brasil e o mundo.

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