Brasília — Mais do que uma etapa preparatória para a conferência do clima em Belém, a Pré-COP30 abriu nesta segunda-feira (13) um novo capítulo na diplomacia ambiental brasileira. O governo tenta converter o protagonismo simbólico do país — guardião da Amazônia e voz do Sul Global — em liderança política real nas negociações internacionais sobre financiamento climático, transição energética e justiça social.
O encontro em Brasília reuniu representantes de 67 países e serviu como termômetro para medir até que ponto o Brasil conseguirá conduzir uma agenda que una ciência, economia e povos tradicionais sob um mesmo horizonte.
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, defendeu o multilateralismo e a implementação efetiva do Acordo de Paris, mas a ambição vai além da diplomacia formal: o governo quer fazer da COP30 o símbolo de um “novo pacto civilizatório” — expressão repetida por ministros em discursos recentes.
Na prática, o país busca ocupar um espaço que há anos parecia vago desde a era Lula-1: o de articulador entre Norte e Sul.
Com Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente, Fernando Haddad na Fazenda e Sônia Guajajara representando os povos indígenas, o Planalto tenta construir uma governança climática que une economia verde e inclusão social — uma narrativa que interessa tanto a Washington quanto a Bruxelas, mas que depende de credibilidade e capacidade de entrega.
Os quatro círculos temáticos criados pela presidência da COP30 — Finanças, Povos, Presidentes da COP e Balanço Ético Global — materializam essa tentativa de conciliar interesses distintos.

Haddad apresentou avanços em torno da criação de uma “supertaxonomia” de investimentos sustentáveis e de uma coalizão para mercados de carbono.
Guajajara, por sua vez, destacou a mobilização inédita de mais de três mil indígenas para a conferência. Já Marina Silva propôs incluir dimensões éticas e territoriais nas decisões políticas, defendendo que “a transição ecológica é também uma transição de valores humanos”.
A estratégia é fazer de Belém não apenas a sede de uma conferência, mas um marco de reposicionamento internacional do Brasil — um país que busca mostrar capacidade técnica para liderar a agenda climática e, ao mesmo tempo, legitimar-se como porta-voz dos povos do Sul.
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A dúvida é se o discurso conseguirá sobreviver ao teste político e econômico que acompanha qualquer negociação global: quem paga a conta.
Para o governo, o caminho de Brasília a Belém é curto, mas decisivo. A COP30 será, mais do que um evento ambiental, um teste de autoridade internacional e o Brasil quer sair dele não como anfitrião, mas como referência.