Washington — A disputa comercial entre Estados Unidos e China voltou a se intensificar nesta segunda-feira (13), depois que o governo americano anunciou a intenção de impor tarifas de até 100% sobre produtos chineses e Pequim respondeu com novas restrições à exportação de terras raras. O movimento elevou a tensão entre as duas maiores economias do mundo, provocou volatilidade nos mercados internacionais e reacendeu preocupações com o impacto da guerra tarifária sobre a inflação global e as cadeias de suprimentos.
As medidas foram tomadas em meio à expectativa de um possível encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, previsto para ocorrer na Coreia do Sul nos próximos dias.
Segundo fontes citadas pela agência Reuters, o encontro teria como objetivo tentar conter a escalada comercial e restabelecer algum nível de cooperação econômica.
Ainda assim, analistas avaliam que o clima de desconfiança permanece e que ambos os países buscam reforçar posições antes de negociar.
“Há uma percepção crescente de que a rivalidade econômica se tornou estrutural, não conjuntural”, disse o economista David Bessent, da Bessent Capital, à Reuters.
O anúncio das novas tarifas americanas inclui sobretaxas de 25% a 100% sobre caminhões, produtos farmacêuticos e componentes tecnológicos. Em resposta, Pequim anunciou controles mais rígidos sobre a exportação de minerais usados na fabricação de chips e baterias, o que afeta diretamente indústrias dos Estados Unidos, Japão e Europa.
O Ministério do Comércio chinês classificou a decisão americana como “um ato de protecionismo injustificado” e afirmou que adotará “todas as medidas necessárias” para defender seus interesses.
A reação dos mercados foi imediata. O preço do petróleo, que havia acumulado perdas expressivas nas últimas semanas, subiu cerca de 1% após os anúncios, em meio à reavaliação dos investidores sobre os riscos geopolíticos. As bolsas asiáticas encerraram o dia em queda — o índice de Xangai recuou 1,4% e o de Hong Kong, 1,8% —, refletindo o temor de uma desaceleração do comércio global.
Na Europa, o impacto foi mais contido, mas ações de empresas exportadoras e do setor automotivo caíram com força. Nos Estados Unidos, o S&P 500 registrou leve baixa, enquanto o dólar se valorizou diante de moedas emergentes.

A disputa entre Washington e Pequim ocorre num momento de recuperação desigual da economia global. Nos Estados Unidos, economistas projetam crescimento acima do esperado em 2025, impulsionado pelo consumo e pela política fiscal expansionista, mas com sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho e inflação persistente.
Na China, o governo tenta sustentar o crescimento com estímulos ao crédito e investimento em infraestrutura, ao mesmo tempo em que enfrenta queda na demanda doméstica e dificuldades no setor imobiliário. As exportações chinesas cresceram 8,3% em setembro, mas as vendas para os Estados Unidos caíram 27%, reflexo direto das tensões bilaterais.
Especialistas veem na nova rodada de tarifas um movimento político tanto quanto econômico. Para Trump, que busca reforçar a imagem de defesa da indústria nacional, o confronto com a China serve de argumento eleitoral. Para Pequim, as restrições às exportações estratégicas funcionam como pressão sobre setores sensíveis do Ocidente.
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“O risco é que ambos usem as tarifas como instrumento de barganha e, no fim, os consumidores e empresas do mundo inteiro paguem a conta”, disse à AP o analista de comércio internacional Richard Fontaine, do Center for a New American Security.
A Europa acompanha o embate com apreensão. Países da União Europeia tentam costurar uma posição comum em relação à política industrial americana, que inclui subsídios bilionários para a produção local de semicondutores e energia limpa.
Paralelamente, um impasse nas negociações sobre as metas de emissões do transporte marítimo divide EUA e UE na Organização Marítima Internacional. Para líderes europeus, o risco é que a fragmentação comercial agrave o protecionismo global e reduza o espaço para acordos multilaterais.
No Oriente Médio, os efeitos também são sentidos. A instabilidade nas relações entre as grandes potências pressiona o preço do petróleo e complica a gestão de receitas de países produtores, já afetados por tensões regionais e incertezas sobre a demanda chinesa.
O equilíbrio entre crescimento e segurança energética se tornou um desafio comum tanto para o Ocidente quanto para a Ásia.
Embora Washington e Pequim mantenham canais diplomáticos abertos, a retomada da retórica tarifária indica que a competição econômica deve continuar a dominar a relação bilateral. As tentativas de diálogo são vistas mais como gestão de risco do que como cooperação efetiva.
Para os mercados, o recado é que o mundo volta a girar sob o sinal de uma guerra comercial que, mesmo sem tiros, redefine as alianças e as fragilidades da economia global.