Alta do dólar

O dólar encerrou a sexta-feira (11) em forte alta, cotado a R$ 5,50, enquanto o Ibovespa caiu após seis semanas consecutivas de valorização. O movimento, registrado nos principais mercados financeiros, ocorreu após a nova escalada da tensão comercial entre Estados Unidos e China e o aumento das incertezas fiscais no Brasil, que levaram investidores a buscar proteção em ativos considerados mais seguros.

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A sequência de eventos começou com a declaração do presidente norte-americano Donald Trump, que anunciou a intenção de impor tarifas de até 100 % sobre produtos tecnológicos chineses.

A medida reacendeu a guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta e disparou uma corrida por proteção no mercado internacional. Com investidores buscando segurança no dólar e nos títulos do Tesouro dos EUA, moedas emergentes e ativos especulativos sofreram.

No Brasil, o impacto foi imediato. O real se desvalorizou 1,9% no dia, acompanhando o movimento global de fortalecimento do dólar.

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A Bolsa, que vinha acumulando ganhos desde o início de setembro, perdeu fôlego e recuou para 140.680,00 pontos. O movimento foi potencializado pela realização de lucros de investidores institucionais após semanas de alta.

O ajuste global coincidiu com um momento de maior desconfiança interna. A leitura de que o governo poderia flexibilizar metas e ampliar gastos obrigatórios reacendeu a preocupação do mercado com a sustentabilidade fiscal.

A percepção de risco elevou o prêmio exigido pelos investidores e alimentou o movimento de saída de capital estrangeiro. O Ministério da Fazenda tentou conter o ruído, afirmando que não há medidas em análise fora do teto fiscal, mas o mercado reagiu com cautela.

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Mesmo em um ambiente onde a taxa de juros básica segue alta, a percepção da deterioração das contas públicas foi um dos fatores que pesou para a alta no dólar e a queda das ações de empresas brasileiras.

Soma-se a isso a aversão ao risco global que também atingiu o mercado de criptomoedas, que vinha de semanas de valorização. O Bitcoin caiu quase 10% em 5 dias, para cerca de US$ 110 mil, e o Ethereum desabou mais de 18% no mesmo período.

Em todo o setor, mais de US$ 6 bilhões em posições alavancadas foram liquidadas em poucas horas, de acordo com levantamento da Coinglass.

Alta do dólar

Esse movimento é típico de períodos de estresse: investidores desmontam posições em ativos mais voláteis e buscam liquidez em moeda forte, mesmo em um cenário onde os juros nos EUA estejam em queda.

O mercado agora tenta medir se o choque é pontual ou o início de um novo ciclo de aversão global. Investidores monitoram as próximas declarações de Trump e as respostas da China, que já sinalizou retaliações comerciais.

No Brasil, a atenção se volta à reação do governo às críticas fiscais e aos próximos passos do Banco Central. Por ora, a leitura predominante é que o “rali” de otimismo que marcou o início de outubro cedeu lugar a uma fase de cautela.

Enquanto o dólar se fortalece, o resto do mundo volta a correr atrás da segurança que o próprio medo ajudou a criar.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista com foco em economia e política internacional, dedicado a interpretar como o poder e os mercados influenciam o Brasil e o mundo.

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