São Paulo — O mercado financeiro reagiu com forte aversão a risco nesta terça-feira (7), em meio a novos ruídos fiscais e à piora do cenário global. O Ibovespa encerrou o pregão em queda de 1,57%, aos 141.356 pontos, o pior desempenho desde agosto. O dólar subiu 0,9%, a R$ 5,35, e as taxas de juros futuros avançaram mais de dez pontos-base em toda a curva, refletindo maior percepção de risco e redução das apostas em ativos brasileiros.
As declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o estudo de uma política de tarifa zero no transporte público reacenderam dúvidas sobre o espaço fiscal do governo.
Em entrevista nesta manhã, o ministro afirmou que o tema “deve ser uma bandeira” de campanha em 2026 e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou à equipe econômica a elaboração de um estudo técnico sobre a viabilidade da proposta.
A leitura do mercado foi imediata: mais gasto potencial e menos previsibilidade.
“Não é que o mercado seja contra subsídios sociais, mas há receio de que novas promessas ampliem a incerteza fiscal num momento em que a meta de déficit zero já é questionada”, disse Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. “A comunicação do governo ainda é confusa e o investidor está mais sensível a ruídos.”
A tensão aumentou com a indefinição em torno da Medida Provisória 1.303/2025, que trata da taxação de investimentos financeiros e apostas online. O texto, que vence nesta semana, ainda não tem consenso no Congresso.
“Enquanto não houver clareza sobre o que será votado, o mercado precifica risco tributário”, afirmou Paula Zogbi, estrategista-chefe da TC Traders. “Isso se soma à sensação de que a equipe econômica perdeu o controle da narrativa fiscal.”
As taxas de juros futuros reagiram de forma sincronizada: o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2029 subiu para 10,92%, o maior nível em dois meses. A alta encarece o custo de financiamento e pressiona empresas sensíveis a juros, como varejistas e construtoras, que lideraram as quedas na Bolsa.
No exterior, o dia também foi de ajustes. Os principais índices americanos recuaram — o S&P 500 caiu 0,6% e o Nasdaq, 0,7% —, em meio à paralisação parcial do governo dos Estados Unidos e à expectativa de manutenção de juros elevados pelo Federal Reserve. O movimento global de valorização do dólar ampliou a pressão sobre moedas emergentes, incluindo o real.

“O contexto internacional já era negativo, mas o que pesou foi o fator doméstico”, avaliou André Perfeito, economista e consultor independente. “O fiscal voltou a dominar a precificação. Cada ruído sobre gasto público reacende a dúvida sobre o comprometimento com o centro da meta.”
A economista Zeina Latif vê exagero na reação. Para ela, a volatilidade reflete mais a ansiedade dos investidores do que uma ruptura efetiva.
“O mercado tende a reagir de forma imediata, mas ainda não há sinais de que o governo abandonará o arcabouço fiscal. O problema é a comunicação — toda vez que ela falha, a confiança se abala”, afirmou.
Apesar da queda de hoje, o Ibovespa ainda acumula alta de 2,3% em outubro e valorização de cerca de 8% no ano. Analistas avaliam, porém, que a percepção fiscal continuará sendo o fator decisivo para o comportamento dos ativos.
Leia mais
“Enquanto a política fiscal seguir ambígua, o investidor estrangeiro tende a reduzir exposição”, disse Perfeito. “O desafio do governo é reconquistar previsibilidade.”
Entre os economistas, há consenso de que a turbulência desta terça não foi apenas técnica, mas simbólica: um lembrete de que o discurso fiscal tem peso direto sobre os preços de mercado.
“O risco voltou para a mesa”, resumiu Ribeiro. “E, quando isso acontece, o investidor não espera o próximo ruído. Ele vende primeiro.”