A COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA), promete ser o ponto decisivo da política climática global na década. Delegações de cerca de 200 países se reunirão às margens da Amazônia para tentar definir um novo roteiro de financiamento climático e cooperação internacional capaz de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
O encontro, no entanto, ocorre em meio a um cenário adverso: os Estados Unidos abandonaram o Acordo de Paris, conflitos armados se intensificam na Ucrânia e no Oriente Médio, e o foco político global em metas ambientais diminuiu.
Em vista disso, o resultado da cúpula pode marcar tanto um novo ciclo de ação climática quanto um retrocesso histórico no esforço internacional.
De acordo com a ONU, os países foram instados a apresentar suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — planos que indicam quanto pretendem reduzir as emissões até 2035.
Mais da metade das nações já entregaram suas metas, incluindo China e Estados Unidos (no governo anterior), mas a União Europeia e a Índia não cumpriram o prazo. A expectativa é que o relatório de síntese da ONU, previsto para este mês, aponte um aquecimento projetado acima de 2,5°C, muito distante da meta de Paris.
Segundo negociadores, o Brasil — país-sede da conferência — pretende conduzir a COP30 com foco na implementação de compromissos e resultados concretos, após anos de promessas inconclusas.
O governo aposta no conceito de “Transição Justa”, que busca garantir que nações pobres e populações vulneráveis não fiquem à margem da economia verde.
“O financiamento climático é o eixo central da conferência”, afirma Maria Netto, diretora do Instituto Clima e Sociedade. “Ele pode ser público ou privado, mas precisa se traduzir em projetos concretos de mitigação e adaptação — de energia renovável a restauração florestal.”
Entre os pontos mais aguardados está a aprovação do Roteiro de Baku a Belém, documento que propõe integrar fundos multilaterais e instituições financeiras para garantir US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 em recursos para países em desenvolvimento.

Esse valor supera em mais de quatro vezes a meta acordada na COP29, em Baku (Azerbaijão), que previa US$ 300 bilhões anuais.
O plano também prevê incentivos para emissão de títulos verdes, taxas de solidariedade sobre combustíveis fósseis e novas linhas de crédito climático em bancos multilaterais.
O Brasil, junto à presidência do Azerbaijão, vem articulando apoio de governos, empresas e sociedade civil para viabilizar o mecanismo.
Na pauta paralela, devem avançar propostas como o Fundo Tropical Forests Forever, de US$ 125 bilhões, voltado à preservação das florestas, e a criação de uma coalizão global de mercados de carbono.
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Os dois temas são estratégicos para a diplomacia brasileira, que busca liderar o debate sobre pagamento por serviços ambientais e valorização das florestas em pé.
“O sucesso ou fracasso da COP30 será o legado climático do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, disse à Bloomberg o analista John Ainger. “O desafio é mostrar que o multilateralismo ainda funciona mesmo em meio à fragmentação global.”
Com 55 mil participantes já inscritos, a COP30 deve reunir líderes mundiais, ambientalistas e investidores em Belém — palco simbólico da Amazônia, mas também de enormes desafios logísticos e econômicos. Entre eles, o alto custo de hospedagem e o risco de frustração política caso não se alcance um consenso sobre financiamento e metas.