Crise política na França

A renúncia inesperada do primeiro-ministro francês Sébastien Lecornu, menos de 12 horas após assumir o cargo, provocou forte instabilidade nos mercados nesta segunda-feira (6). O colapso do novo governo levou à queda de mais de 1,5% no índice CAC 40, principal indicador da Bolsa de Paris, e ampliou o custo da dívida francesa para o maior nível desde janeiro.

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O episódio mergulhou a segunda maior economia da zona do euro em nova crise política e financeira, acentuando a percepção de paralisia institucional no país.

A saída de Lecornu, anunciada poucas horas após a divulgação do novo gabinete, marcou a duração mais curta de um governo na história recente da França e reabriu dúvidas sobre a capacidade do presidente Emmanuel Macron de manter a estabilidade até o fim do mandato.

As ações dos grandes bancos franceses, como BNP Paribas, Société Générale e Crédit Agricole, despencaram entre 4% e 5%, pressionando o setor financeiro europeu.

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O euro recuou 0,7%, para US$ 1,1665, diante do aumento do risco político e da falta de consenso parlamentar para aprovar o orçamento.

“É preocupante que o novo gabinete tenha durado apenas 12 horas. Não há disposição no Parlamento para aprovar um orçamento, o que pressiona os juros e o euro no curto prazo”, afirmou a analista Kirstine Kundby-Nielsen, do Danske Bank.

O spread dos títulos franceses de 10 anos frente aos papéis alemães saltou para 86,5 pontos-base, o maior desde o início do ano.

Os Credit Default Swaps (CDS) — contratos que funcionam como seguro contra calote soberano — subiram para 41 pontos, o nível mais alto desde abril, após a recente revisão negativa de rating feita por agências internacionais.

Crise política na França

Entre os índices europeus, o impacto foi mais forte na França, mas o pessimismo também atingiu os demais mercados: o STOXX 600 caiu 0,3%, e o DAX alemão, 0,1%. O segmento de ações de médio porte (CAC Mid) despencou 2,6%, no pior desempenho diário desde abril.

O país enfrenta desequilíbrio fiscal estrutural, com déficit público quase o dobro do limite de 3% da União Europeia e dívida em trajetória ascendente.

Desde a reeleição de Macron, em 2022, o governo tem enfrentado fragmentação parlamentar e sucessivas quedas de primeiros-ministros — três em menos de um ano.

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“A incerteza política torna os investidores cautelosos com ativos europeus, especialmente franceses”, avaliou Chris Beauchamp, analista-chefe do IG Group. “O problema é que não há uma solução rápida — nenhum ‘tiro de prata’ — à vista.”

O episódio deve repercutir ao longo da semana nos mercados de câmbio e renda fixa da Europa, já que a França é um dos pilares da confiança do bloco monetário.

A persistência da instabilidade pode levar a novas saídas de capital e pressionar o Banco Central Europeu a revisar sua comunicação sobre juros e estabilidade financeira.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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