Verra
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A entidade internacional de certificação de créditos de carbono Verra anunciou nesta quinta-feira (2) que solicitou compensação pelo excesso de créditos gerados no projeto Kariba REDD+, no Zimbábue. Após uma investigação de dois anos, a organização concluiu que cerca de 57% dos 27 milhões de créditos emitidos pelo desenvolvedor Carbon Green Investments (CGI) foram indevidos.

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O projeto, lançado há mais de uma década às margens do Lago Kariba, tinha como objetivo reduzir o desmatamento e a degradação florestal na região. Ele foi conduzido pela suíça South Pole em parceria com a CGI, do empresário Steve Wentzel, e movimentou mais de US$ 100 milhões desde o início.

Entre os compradores estiveram grandes multinacionais como Gucci, Volkswagen, Nestlé e a fornecedora de energia Greenchoice, que utilizaram os créditos para compensar emissões operacionais. A credibilidade do Kariba vinha sendo questionada há anos por especialistas do mercado de carbono.

Reportagem publicada pela revista The New Yorker no fim de 2023 trouxe à tona falhas no cálculo das emissões evitadas, levando a Verra a suspender o projeto e abrir uma revisão interna. Logo após, a South Pole se retirou da iniciativa, deixando a CGI como responsável exclusiva.

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De acordo com a avaliação da Verra, a taxa de desmatamento usada como referência para estimar a capacidade de conservação de CO₂ foi superestimada em relação ao que de fato ocorreu na região, resultando na emissão de créditos acima do volume justificável.

Embora tenha declarado os créditos excedentes como “sem valor”, a Verra informou que eles continuarão válidos para os compradores que já os utilizaram. Como forma de reparação, a entidade solicitou que a CGI adquira e cancele um volume equivalente de créditos provenientes de outros projetos reconhecidos.

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A CGI respondeu positivamente ao pedido, mas pediu um “moratório” até que possa revisar a avaliação feita pela Verra. Para os cerca de 5 milhões de créditos de Kariba que já foram vendidos, mas ainda não usados como compensação, o registro recomendou que os compradores optem por cancelá-los voluntariamente.

O caso reacendeu discussões sobre a integridade do mercado voluntário de carbono e a ausência de mecanismos claros de responsabilização em situações de superemissão de créditos, levantando dúvidas sobre a confiança em projetos do tipo REDD+.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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