Compensação florestal
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A Cota de Reserva Ambiental (CRA), instrumento criado em 2012 pelo Código Florestal para remunerar produtores que preservam áreas de vegetação nativa além do exigido por lei, sai do papel após mais de uma década. A primeira emissão será feita em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 160 hectares no interior do Rio de Janeiro, inaugurando um mercado que pode abrir novas possibilidades de regularização ambiental e movimentar bilhões de reais em ativos verdes.

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Regularização para quem desmatou além da lei

A CRA permite que áreas preservadas sejam convertidas em títulos negociáveis, que poderão ser comprados por produtores que desmataram além do permitido, funcionando como alternativa de regularização ambiental.

Na prática, trata-se de um mecanismo que equilibra obrigações legais com oportunidades econômicas. Enquanto um lado é remunerado por manter a floresta em pé, o outro encontra alternativa para ajustar sua situação perante a lei. O modelo cria uma ponte entre conservação e mercado, aproximando a política ambiental de instrumentos financeiros.

Primeira emissão abre caminho

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A estreia do mecanismo ocorrerá em uma RPPN localizada no município de Silva Jardim (RJ). A área foi reconhecida oficialmente como elegível para emissão de CRA e deverá gerar as primeiras cotas do país.

A iniciativa é vista como um marco, já que desde a criação do Código Florestal, em 2012, o instrumento não havia sido implementado por falta de regulamentação prática e disputas sobre critérios técnicos.

Com a primeira emissão, abre-se a possibilidade de replicação em outras áreas, tanto em propriedades privadas quanto em unidades de conservação reconhecidas. A expectativa é que a iniciativa atraia produtores interessados em monetizar a preservação e compradores que necessitam regularizar passivos ambientais.

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Potencial econômico bilionário

Segundo estimativas do próprio mercado, as operações de CRA podem movimentar até R$ 2,8 bilhões por ano no Brasil, caso o instrumento ganhe escala. Esse valor considera a demanda de produtores por regularização e a oferta de áreas preservadas aptas a emitir cotas.

O mecanismo também pode se somar a outras iniciativas de finanças verdes, como créditos de carbono e títulos sustentáveis, criando um ecossistema mais amplo de ativos ambientais. Com isso, a floresta em pé deixa de ser apenas obrigação legal e passa a ter valor econômico mensurável.

A consolidação do mercado, porém, dependerá de regras claras, fiscalização rigorosa e informação acessível, sem as quais a CRA corre o risco de ficar restrita a operações pontuais.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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