Inflação
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A inflação voltou ao centro do debate econômico mundial nesta terça-feira (30), reacendendo a cautela em torno da política monetária. A Alemanha registrou em setembro o maior índice desde fevereiro, reforçando dúvidas sobre cortes de juros na zona do euro. No Reino Unido, a vice-governadora do Banco da Inglaterra alertou contra a complacência diante de choques de preços. E no Japão, o Banco Central revelou que parte de seus dirigentes já discute elevar juros em outubro, num raro movimento em décadas de política monetária ultraexpansiva.

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Inflação alemã supera projeções e pressiona o BCE

A Alemanha, maior economia da zona do euro, registrou inflação de 2,4% em setembro, acima da projeção de 2,2% e do índice de 2,1% observado em agosto, segundo o escritório federal de estatísticas.

O núcleo, que exclui energia e alimentos, avançou para 2,8% após três meses estável em 2,7%, mostrando que os preços seguem pressionados mesmo sem choques temporários.

“Apesar da fraqueza da economia nos últimos anos, os preços ainda sobem mais rápido do que o Banco Central Europeu gostaria”, avaliou Ralph Solveen, economista sênior do Commerzbank.

Para Carsten Brzeski, chefe global de macroeconomia do ING, o dado reforça que o BCE terá de manter “um alto grau de prudência antes de considerar novos cortes de juros”.

O índice da zona do euro será publicado nesta quarta-feira (1º) e analistas projetam aceleração para 2,2%, em linha com a meta oficial. O resultado alemão, porém, aumenta o risco de que os preços se mostrem mais persistentes, atrasando o alívio monetário esperado pelos mercados.

Banco da Inglaterra critica visão de inflação como choque passageiro

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No Reino Unido, a vice-governadora para política monetária, Clare Lombardelli, afirmou em conferência em Helsinque que bancos centrais não podem assumir que choques inflacionários são sempre temporários.

Segundo ela, fatores estruturais como mudanças climáticas e transformações no mercado de trabalho podem prolongar a alta dos preços.

“Se tratarmos aumentos recorrentes como transitórios, corremos o risco de perder o controle das expectativas”, afirmou Lombardelli.

Ela foi uma das dirigentes que votou contra o corte de juros promovido pelo BoE em agosto e recentemente avaliou que a taxa básica de 4% já está próxima de um nível neutro, o que limita espaço para novas reduções.

A declaração expõe a divisão dentro do Comitê de Política Monetária e ocorre em meio a sinais de perda de fôlego da economia britânica, cujo PIB avançou apenas 0,3% no segundo trimestre.

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Banco do Japão discute alta de juros já em outubro

No Japão, a ata da reunião de setembro revelou que parte dos conselheiros considera “chegada a hora” de elevar os juros novamente, após nove meses de pausa. Hoje a taxa básica está em 0,5%, mas dois dos nove diretores defenderam um aumento imediato para 0,75%.

Segundo o documento, empresas japonesas continuam a repassar aumentos de custos para alimentos e bens essenciais, mesmo com a queda nos preços de importação, o que amplia o risco inflacionário. Um dos membros chegou a sugerir que o BoJ deveria retomar as altas “em intervalos regulares”, se a atividade e os preços seguirem no ritmo atual.

O mercado já precifica cerca de 60% de chance de elevação na próxima reunião, marcada para 29 e 30 de outubro. Declarações recentes de diretores como Asahi Noguchi reforçam a leitura de que a pressão por um aumento da taxa é “mais forte do que nunca”.

Pressão coordenada sobre a política monetária global

O conjunto de sinais vindos de Alemanha, Reino Unido e Japão evidencia que a inflação segue como risco central em 2025, mesmo após o ciclo de alta de juros iniciado em 2022. 

Enquanto a zona do euro enfrenta preços mais resistentes, o Banco da Inglaterra adota discurso duro e o Japão se vê forçado a avaliar um aperto raro em sua política monetária.

Para Solveen, do Commerzbank, “a persistência da inflação núcleo na Alemanha sugere riscos maiores no médio prazo”. Já Brzeski, do ING, acredita que “o dado reforça a necessidade de manter a política mais restritiva do que os mercados previam”.

No Japão, a ata do BoJ mostra que a percepção de que “o tempo para subir juros está se aproximando” ganha cada vez mais força no conselho.

Com isso, a expectativa de cortes amplos de juros em 2025 perde fôlego, o que tende a impactar fluxos de capitais, custos de financiamento e a perspectiva de crescimento em economias emergentes como o Brasil.

José Carlos Sanchez Jr.

José Carlos Sanchez Jr.

Jornalista e redator especializado em economia, finanças e investimentos. É Administrador de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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