Os mercados globais abriram a terça-feira (30) em clima de cautela, diante do impasse orçamentário em Washington que pode levar a uma paralisação parcial do governo norte-americano já nesta quarta-feira. O temor de um shutdown reforçou a busca por ativos de proteção, levando o ouro a novo recorde acima de US$ 3.820 por onça e derrubando as bolsas europeias. Na Ásia, o pregão terminou sem direção única, enquanto o petróleo e o café registraram oscilações relevantes diante de pressões de oferta e clima.
Paralisação em Washington pode travar dados econômicos
O risco de fechamento do governo dos Estados Unidos ganhou força após o vice-presidente JD Vance reconhecer que “o país caminha para um shutdown” diante da falta de acordo entre a Casa Branca, comandada por Donald Trump, e a oposição democrata.
Caso a paralisação se confirme, relatórios cruciais como o payroll de setembro e o índice de preços ao consumidor (CPI) podem ser adiados, prejudicando a visibilidade do Federal Reserve para definir os próximos cortes de juros.
Analistas alertam que um governo paralisado por várias semanas deixaria o Fed “às cegas” em relação ao cenário econômico, especialmente porque a instituição já reduziu os juros neste mês.
O temor é que a falta de dados sobre emprego e inflação leve a decisões mais cautelosas, com impacto direto sobre a confiança dos investidores e sobre o apetite por risco no mundo.
Ouro dispara e petróleo perde força
Em meio às incertezas, o ouro se consolidou como porto seguro. O metal precioso subiu mais de 12% em setembro, registrando a maior valorização mensal desde novembro de 2009.
Nesta terça-feira (30), a cotação alcançou a máxima histórica de US$ 3.820 por onça, impulsionada pelo fluxo defensivo e pela queda do dólar frente a moedas como o euro, o franco suíço e a libra.
Na direção oposta, o petróleo operou em baixa diante da expectativa de aumento de produção pela OPEP+ e da retomada das exportações do Curdistão iraquiano.
O barril do Brent caiu 1,25%, para US$ 67,11, enquanto o WTI recuou na mesma proporção, a US$ 62,66. O movimento adiciona pressão sobre empresas do setor de energia e reforça a leitura de que a oferta global deve crescer no curto prazo.
Mercados asiáticos refletem cautela
O pregão na Ásia terminou dividido entre ganhos pontuais e perdas moderadas. No Japão, o Nikkei 225 recuou 0,25% após dados mostrarem queda maior que a esperada na produção industrial.
Já em Hong Kong, o Hang Seng avançou 0,9%, acompanhado pela alta de 0,5% do Shanghai Composite, que foi embalado pela quinta sequência mensal de ganhos do CSI300, algo não visto desde 2017.
Na Austrália, o S&P/ASX 200 perdeu 0,2%, mesmo após o banco central manter os juros em 3,60% e reconhecer riscos de inflação acima do previsto.
A Coreia do Sul também acompanhou o viés negativo, com queda de 0,2% no Kospi. O resultado reflete a combinação de fraqueza no setor manufatureiro da China, que segue em contração, e o nervosismo em relação ao impasse fiscal nos EUA.
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Europa abre em queda e futuros de Nova York recuam
O sentimento negativo se estendeu à Europa, onde os principais índices operaram em baixa logo na abertura. O pan-europeu Stoxx 600 caía 0,2%, enquanto o CAC 40 de Paris recuava 0,5%.
O DAX de Frankfurt perdia 0,1% e o FTSE 100 de Londres registrava queda de 0,2%. Paralelamente, os futuros de Nova York apontavam para um início de sessão no vermelho, com retração de 0,2% no Dow Jones e no S&P 500.
A percepção é de que a valorização recente das bolsas globais pode perder fôlego caso a paralisação nos Estados Unidos se prolongue e comprometa a divulgação de indicadores fundamentais para o direcionamento da política monetária.
Café pressiona com chuvas no Brasil; algodão segue em baixa
No mercado de commodities agrícolas, o café foi destaque negativo após chuvas acima da média em Minas Gerais elevarem as perspectivas para a safra.
O contrato de dezembro do arábica caiu 1,55% na véspera, refletindo condições mais favoráveis para a floração das lavouras.
Apesar disso, tarifas de 50% sobre importações brasileiras seguem restringindo estoques nos Estados Unidos, o que limita quedas adicionais. O algodão também recuou, negociado a US$ 63,59 por libra-peso, com queda de 0,39% diante da pressão de oferta global.
As notícias se somam à queda do petróleo e ao fortalecimento do ouro, compondo um quadro de movimentos relevantes entre as principais commodities globais.
Perspectiva para o Brasil
Diante do cenário internacional marcado pela disparada do ouro, pela queda do petróleo, pela volatilidade das commodities agrícolas e pela aversão ao risco nos mercados acionários, a expectativa é que o Ibovespa abra em terreno negativo nesta terça-feira (30).
A bolsa brasileira deve seguir a tendência observada na Europa e nos futuros de Nova York, enquanto o câmbio pode refletir a fraqueza do dólar no exterior e o fluxo de investidores em busca de proteção em moedas alternativas como o iene e o euro.