O Federal Reserve pode abrir um debate para revisar sua meta de inflação de 2% ao ano, vigente desde a década de 1990. Após 54 meses consecutivos acima do objetivo, dirigentes da instituição indicam que uma faixa de tolerância pode ser mais realista que um ponto fixo. A discussão ganha força às vésperas do fim do mandato de Jerome Powell, em maio de 2026, e com mudanças na composição do board da autoridade monetária.
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Uma meta cada vez mais distante
Dados a serem divulgados nesta sexta-feira (26) devem mostrar nova leitura acima de 2% para agosto, prolongando o período em que a inflação supera o alvo. Projeções oficiais indicam que o retorno ao patamar de 2% pode demorar até 2028, o que reforça o risco de erosão de credibilidade do banco central norte-americano.
O dilema do Fed é duplo: enquanto corta juros para proteger o emprego, mantém as condições financeiras frouxas, o que pode reaquecer a economia e manter a pressão inflacionária. Esse impasse explica porque cresce a disposição em repensar a estrutura da meta.
Bostic propõe intervalo de 1,75% a 2,25%
A ideia de um alvo em faixa foi defendida recentemente por Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta. Em entrevista, ele afirmou que existe uma “ilusão de precisão” ao perseguir 2,0% cravados, sugerindo como alternativa um intervalo entre 1,75% e 2,25%.
Modelos semelhantes já são adotados por bancos centrais de países avançados como Canadá, Austrália e Nova Zelândia, além de várias economias emergentes. Segundo estudo do BIS (Banco de Compensações Internacionais), mesmo onde a meta é fixa, o horizonte para atingi-la tem se tornado cada vez mais elástico.
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Impactos globais e reflexos para o Brasil
Uma eventual mudança no regime do Fed teria repercussões em toda a economia mundial. Com maior flexibilidade, a autoridade monetária poderia manter juros mais baixos por mais tempo, estimulando liquidez e influenciando fluxos para mercados emergentes.
Para o Brasil, esse debate é sensível: um Fed menos rígido em relação à inflação pode reduzir a pressão sobre o câmbio e abrir espaço para maior estabilidade nos juros locais. Por outro lado, expectativas desancoradas nos EUA tenderiam a aumentar a volatilidade global, exigindo maior prudência da política monetária brasileira.